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Vendedora de merenda vira desembargadora e ajuda crianças
24 de junho de 2016
- Só Notícia Boa
Foto: Arquivo Pessoal|Foto: Arquivo Pessoal
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Mais uma linda história brasileira de garra e superação!

Uma menina que cresceu arrancado pedras de uma pedreira e foi vendedora de merenda se transformou em referência na luta contra o trabalho infantil no Pará e no Brasil.

Maria Zuíla Lima Dutra estudou direito, virou juíza do Trabalho em 1995 e em maio deste ano tomou posse como desembargadora do Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região (Pará e Amapá).

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Aos 63 anos, a desembargadora não esquece da infância sofrida.

“Eu era muito pequena. Não tenho lembrança de algum período da minha infância em que eu não estivesse trabalhando.”

História
A família de Zuíla era muito pobre. A mãe, analfabeta, criava sozinha os cinco filhos em um barraco, em Santarém.
Estudar exigia força de vontade: a menina estava sempre cansada de acordar de madrugada e ainda enfrentava a falta de luz elétrica em casa: a lamparina cansava ainda mais seus olhos.
Sem dinheiro para comprar cadernos, Maria Zuíla pedia às colegas restos de folhas em branco, que sua madrinha costurava e fazia cadernos para que ela pudesse estudar.

“Éramos muito pobres. Minha mãe, Oscarina, criou os cinco filhos sozinha. Analfabeta, não tinha profissão definida, lavava roupa, fazia todo tipo de serviço. Morávamos de favor no fundo do quintal de uma fábrica de beneficiamento de látex, num canto sem água nem luz. Então consentiram que ela fizesse merenda para vender nas fábricas, e eu e meus irmãos vendíamos. Eu me lembro perfeitamente: um levava o tabuleiro com suco, outro os sanduíches”, conta a desembargadora.

“Minha mãe, mesmo analfabeta, teve a sabedoria de não deixar que nenhum dos filhos saísse de perto dela. Um dia, na fábrica, um casal de São Paulo quis me levar para morar com eles. Eles diziam que eu ia estudar, ter tudo. Minha mãe não deixou, dizia que filho tinha que ficar com ela. Era a mesma história de hoje, prometem tudo, mas na verdade vira uma rotina de exploração, com jornadas de 16, 18 horas.”

Aos 16 anos, Zuíla passou no concurso público para telefonista. Foi professora de matemática e, posteriormente, funcionária do Banco do Brasil.

Embora sonhasse ser juíza do Trabalho, só pôde fazer direito alguns anos depois, a partir de 1990, quando o curso foi criado em Santarém.

Logo depois mudou-se com a família para Belém, onde se formou e se tornou juíza, fazendo do combate ao trabalho infantil uma das missões de sua vida.

A desembargadora integra a Comissão Nacional de Combate ao Trabalho Infantil e de Estímulo à Aprendizagem do Tribunal Superior do Trabalho e coordena idêntico grupo no TRT da 8ª Região.

Luta contra trabalho infantil 

A dissertação de mestrado, defendida em 2006 na Universidade Federal do Pará e publicada em livro no ano seguinte, analisa as trajetórias de meninas saídas do interior paraense para trabalhar na casa de terceiros em Belém.

São as chamadas “filhas de criação” – um eufemismo para disfarçar o que a desembargadora, na vida, na academia e na prática profissional, constatou ser a exploração sem limites de uma mão de obra jovem e barata.

Em entrevista à BBC Brasil por e-mail e telefone, Zuíla Dutra relembrou sua trajetória e analisou a persistência do trabalho infantil doméstico no Brasil (apesar da queda verificada nos últimos anos).

“Muitas vezes, nas audiências, os empregadores negavam veementemente a relação de trabalho, alegando tratar-se de ‘filha de criação’. Mas as provas demonstravam claramente a existência de autêntico vínculo laboral (relação de trabalho) e, mais ainda, de super-exploração de trabalho. Esse tipo de explorador de mão de obra doméstica utiliza a expressão ‘filha de criação’ como substitutivo para ‘trabalho escravo’, ‘trabalho servil’ e outros assemelhados”, afirma ela.

Maria Zuíla sabe que ela própria é uma exceção. Em sua trajetória, destaca seguidamente o papel da mãe, Oscarina, que nunca cedeu a quem quisesse levar sua prole como “filhos de criação”. Os cinco filhos estudaram e só duas, por decisão pessoal, não concluíram o curso superior.

“Já adulta, eu ensinei minha mãe a escrever o nome. Minha mãe está viva, tem 85 anos, e foi à minha posse como desembargadora. É minha heroína”, orgulha-se.

Com informações do Paraíba.com/Uol

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