Por Rinaldo de Oliveira, da redação do SóNotíciaBoa.
Uma nordestina guerreira, que nasceu em família pobre, filha de quilombola, pai analfabeto; que passou fome na infância, não tinha luz elétrica em casa, trabalhou na roça quando menina e foi doméstica na adolescência, se prepara para realizar o grande sonho da vida dela: receber seu diploma universitário e ser jornalista.
A foto acima é do convite de formatura. “Não sou o pedreiro que se tornou advogado, mas sou a faxineira, negra, pobre e nordestina que em poucos dias se tornará jornalista”, comemorou Jill Muricy em entrevista ao SóNotíciaBoa.
A menina – que nunca teve berço nem boneca – nasceu no extremo norte da Bahia, em Campo Formoso. Hoje ela tem 30 anos e vive no Rio de Janeiro.
História
“Morávamos em casa de pau a pique e até de favor. Por vários anos, passamos fome. Eu e meus dois irmãos ajudávamos nossa mãe nos afazeres de casa, carregando balde de água na cabeça e feixe de lenha”, lembra Jill.
Ela conta que tinha dificuldades e sofria bullying na escola, por isso só aprendeu a ler aos 10 anos de idade.
“Sofria bullying e apanhava na escola por ter olhos verdes. Isso me fez odiar a escola e repeti a segunda série por cinco anos. Na adolescência, para ajudar em casa, trabalhava na cidade de empregada doméstica, babá e até como faxineira. Era escravizada pelo serviço e ganhava mal”, conta.
“No fundo, no fundo, eu queria ser jornalista, mas eu escondia este desejo porque as pessoas não acreditavam em mim”.
Mas foi com a perda do pai, em 2012, vítima de trombose, que Jill decidiu dar uma virada em sua vida.
“Como eu não me permiti ser enterrada junto com ele, precisava de algum amparo para não perder o sentido da vida. Foi então que resolvi lutar pelo maior sonho que tenho [ser jornalista], o qual estava enterrado há muito tempo lá no cerne da minha vida”.
No Rio de Janeiro
Ela deixou a Bahia em 2013, de ônibus, para começar do zero, sem ajuda de parentes, nem amigos, na cidade maravilhosa. Foi morar num “pensionato administrado por freiras, com mais de 100 jovens, todas estudantes”.
Lá Jill, que hoje é operadora de telemarketing, conseguiu um emprego, passou no vestibular e estudou na Universidade Veiga de Almeida, com ajuda do FIES, programa do governo federal.
“Minha escolha mudou minha história e me deu novo destino. Como a escolha faz a diferença! Se deu certo para mim, então pode dar certo para qualquer pessoa”, inspira.
Jill, que se forma este ano, torce agora para conseguir um emprego como jornalista. Ela quer ser repórter de televisão. Mais uma batalha para a guerreira vencer.
“Como sou protagonista da minha própria história, escolhi vencer pelo caminho da educação, com honestidade, sem puxar o tapete de quem quer que seja, sendo feliz e realizando minhas tarefas com amor”.
Da redação do SóNotíciaBoa.