País rico, com governantes preocupados com o povo, é outra coisa.
A Finlândia quer testar, a partir de janeiro de 2017, um modelo audacioso de reforma da previdência social, que em vez de aumentar impostos, vai pagar € 560 mensais, o equivalente a cerca de R$ 2 mil para qualquer cidadão que more no país, inclusive quem não trabalha.
O dinheiro será livre, sem o estado pedir nada em troca, nem cobrar impostos. E não importa se o cidadão é um miserável ou um bilionário.
O teste vai envolver um grupo inicial de dois mil finlandeses, durante 2017 e 2018, e produzir uma avaliação dos resultados em 2019, quando deverá entrar em vigor, caso seja aprovado.
Objetivo é economizar
Parece loucura, mas a intenção do governo, ao pagar salário a todos, é economizar.
A proposta da renda mínima universal pretende substituir todos os auxílios sociais oferecidos atualmente pelo Estado por um único benefício, esse salário, a ser distribuído igualmente para todos.
Assim, a Finlândia deixaria de pagar auxílio-moradia, seguro-desemprego, auxílios para deficientes e verbas para estudantes.
Estes e outros benefícios atuais seriam em tese desnecessários, porque cada cidadão receberia do Estado, automaticamente, o mínimo suficiente para viver.
E isso pode sair mais barato porque o governo tem hoje um grande número de funcionários públicos para administrar a complexa rede de programas sociais oferecidos pelo Estado de Bem-Estar social finlandês.
Já o modelo da renda mínima poderia ser gerenciado por um número bem menor de servidores – já que o sistema enterraria a burocracia exigida para determinar se um indivíduo tem de fato o direito de receber este ou aquele benefício social.
Também soa paradoxal, mas a meta do experimento finlandês também é exatamente promover o trabalho: hoje, conseguir um trabalho temporário, por exemplo, pode significar o corte de diferentes benefícios sociais.
Bem estar
O raciocínio é de que, em um mundo no qual apenas uma parcela da população terá empregos tradicionais, será preciso criar um novo sistema de bem-estar social a partir de uma distribuição mais justa da riqueza.
Uma grande onda de automação industrial, conforme já previu estudo da Universidade de Oxford, tem o potencial de eliminar até 47% dos postos de trabalho em um futuro não muito distante.
Vários países europeus já debatem a ideia de uma renda mínima universal e a Holanda também planeja um teste-piloto da proposta para o próximo ano.
A proposta tem o apoio da população finlandesa, ao contrário da Suíça, onde o plano de adotar uma renda mínima universal foi rejeitado este ano em um referendo popular.
Mas se o governo finlandês der aos cidadãos dinheiro suficiente para pagar as contas do mês, será que eles continuarão acordando para ir trabalhar?
A resposta só vai ser conhecida em 2019, quando o governo divulgar a avaliação dos testes – e decidir se a renda mínima universal vai passar a ser um direito de toda a população finlandesa.
Com informações da RFI