O professor Wemerson Nogueira, de apenas 26 anos, é um dos 50 finalistas do Global Teacher Prize, considerado o “Nobel da educação”.
A indicação se deve a um filtro que ele desenvolveu com alunos para purificar a água usada pelos moradores da região de Mariana, atingida pela lama podre da barragem da mineradora Samarco, em novembro de 2015, que deixou 19 pessoas mortas e um rastro de destruição desde Minas Gerais até o Espírito Santo.
O filtro
No início das aulas em 2016, em sua consulta com os alunos da 8ª série da Escola Estadual Antônio dos Santos Neves, ele percebeu o impacto do rompimento da barragem em Mariana.
“Estamos muito perto de Colatina (MG) e de Linhares (duas das cidades atingidas pela lama que desceu o rio Doce). Os alunos só falavam disso e queriam aulas práticas de Química. Então pensei em levá-los para fazer uma pesquisa científica de campo, em Regência (ES), disse o professor à BBC.
Após fazer parcerias com laboratórios, os alunos fizeram análises de amostras da água do rio Doce para estudar os elementos da tabela periódica – entre eles, os metais pesados encontrados no rio. Um deles teve a ideia de desenvolver um filtro para purificar a água usada pelos moradores.
“É um filtro à base de areia que deixa a água transparente, própria para o uso doméstico e agrícola, porque é 75% potável, com base em uma portaria do Ministério da Saúde”, explica Wemerson.
“Levamos os filtros para a comunidade de Regência, muitos ribeirinhos que não tinham água para nada receberam o filtro. Agora ele está sendo replicado em diversas comunidades e ficou conhecido nacionalmente. Nós fomos a primeira escola pública a tomar uma atitude em prol das 3 milhões de pessoas afetadas pela tragédia do Rio Doce.”
O projeto “Filtrando as lágrimas do Rio Doce” deu ao professor seu primeiro prêmio nacional, o Educador Nota 10, concedido aos dez melhores educadores do Brasil. A partir daí, ele passou a sonhar com o reconhecimento internacional.
O professor
Em cinco anos dando aulas na rede estadual do Espírito Santo para alunos do Ensino Fundamental e Médio, ele acumula prêmios pelos projetos educativos que desenvolveu.
É a segunda vez que brasileiros fazem parte da lista de finalistas divulgada pela ONG Varkey Foundation.
Para Wemerson, que ensina Química e Ciências na cidade de Boa Esperança, o segredo do sucesso está em motivar os alunos, descobrindo como eles gostariam que o conteúdo fosse abordado na sala de aula – ou fora dela.
Sonho
O capixaba já sabe o que vai fazer com o prêmio de US$ 1 milhão do Global Teacher Prize, caso seja selecionado.
Ele pretende criar a Fundação Nogueira, com seu sobrenome, que vai oferecer bolsas a alunos do Ensino Médio que queiram tornar-se professores – um incentivo para uma carreira em que baixos salários e pouca infraestrutura são citadas como motivos para não seguir.
O nome do vencedor será anunciado em março, durante um evento em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.
Com informações da BBC