Deu certo a vaquinha feita para ajudar a abrigar LGBTs expulsos pela família.
Foi inaugurada no dia, 25, aniversário de São Paulo, a Casa 1, uma república de acolhimento e centro cultural.
O prédio abriga gays, lésbicas, travestis e transexuais, filhos e filhas de pastores e policiais, vítimas de violência física, psicológica ou ambas.
A casa fica em uma esquina da Bela Vista, bairro no centro da capital, em um sobrado verde onde antes funcionava um bar no térreo e uma ocupação no andar de cima.
A capacidade máxima é para 12 moradores, que podem ficar até três meses. Mas os organizadores do projeto dizem que se apertar e for necessário, o local pode abrigar até 20.
Hoje, no andar de cima do sobrado, há sete camas, uma sala com sofá, mesa de jantar e televisão, além de cozinha e banheiros. Boa parte dos móveis e eletrodomésticos foi doação.
Quem pode
Para ser morador da Casa 1, é preciso ter mais de 18 anos e ter sido expulso de casa por ser LGBT, ou estar em situações extremas de violência psicológica.
Não há custo ou diária.
Com 32 voluntários e uma fila de 400 pessoas interessadas em contribuir, o espaço oferece apoio psicológico e médico (uma obstetra e ginecologista faz uma visita de 15 em 15 dias).
Vaquinha
Em um mês e meio, o projeto arrecadou R$ 112 mil em uma plataforma de crowdfunding.
Aos 1.048 colaboradores foram oferecidas recompensas como a inscrição do nome dos participantes na parede externa da Casa e 32 opções de palestras, workshops e cursos.
É uma iniciativa totalmente voluntária, sem patrocínio ou edital público.
O estudante mineiro Otávio Salles, de 23 anos, brinca ao dizer que é “a governanta” do lugar.
Ele e o idealizador da Casa 1, o jornalista e militante LGBT Iran Giusti, de 27 anos, ficaram amigos no ano passado.
Após ter todas as roupas cortadas com tesoura pelo irmão, Salles levou um soco do tio, que o teria ameaçado de morte.
“Ele disse: Boiola merece morrer. Falou que se me pegasse iria me matar de porrada”, conta o estudante.
“Esconderam os meus documentos para evitar que eu fosse até a delegacia, mas consegui achar a minha certidão de nascimento e fui denunciar. Tive que ensinar para o policial como se escrevia homofobia. Ele não sabia como se escrevia a palavra.”
A ideia
Morando com um amiga e trabalhando em um bar, em Belo Horizonte, o estudante Otávio conheceu Giusti por acaso.
“Acabamos fazendo amizade, conversamos e ele me chamou para ficar no sofá dele em São Paulo”, afirma.
O militante começou a acolher, então, LGBTs expulsos de casa.
“Fiz um post no Facebook que foi compartilhado por duas mil pessoas. Recebi em poucos dias quase 50 solicitações de abrigo. Mas a minha casa era um quarto e uma sala. Pensei que precisava fazer algo maior”, afirma Giusti.
Assim, nasceu a ideia de criar uma república de acolhimento para gays, lésbicas, transexuais e travestis.
O nome Casa 1, explica, é para dar a ideia de “começo”.
Nos planos, está a vontade de expandir. Salles acredita que o espaço deve virar um ponto de referência para a população LGBT.
Despesas
Segundo Giusti, o lugar será mantido por atividades culturais que serão oferecidas no salão da Casa, como oficinas de bordado e canto.
O café da manhã, o almoço e o jantar, além das contas, não estavam inclusos no projeto de financiamento e são pagos do próprio bolso de Giusti.
O próximo passo é conseguir patrocínios para bancar os gastos.
A ideia é que o projeto cresça e, por isso, a equipe vai iniciar um mapeamento das necessidades do entorno do espaço, na Bela Vista. Uma das propostas é facilitar oficinas para idosos, que têm procurado o espaço interessados em participar.
“Estamos planejando o programa Adote um Vovô e Adote uma Vovó, com cursos em que a metade da turma será de idosos e a outra metade, de LGBTs em geral, não somente para os moradores da casa”, explica.
Com informações do Estadão