Um antibiótico usado há mais de meio século contra infecções bacterianas pode ajudar no tratamento da doença de Parkinson.
É o que revela um estudo publicado este mês na revista Scientific Reports, do grupo Nature.
O estudo sugere que o antibiótico doxiciclina pode ser indicado em doses mais baixas para tratar a doença degenerativa, porque reduz a toxicidade de uma proteína conhecida como α-sinucleína, que lesa as células do sistema nervoso central.
A morte dos neurônios dopaminérgicos (produtores do neurotransmissor dopamina) está relacionada aos sintomas do Parkinson, como tremores, lentidão de movimentos voluntários e rigidez.
Não há atualmente remédios capazes de impedir que esse processo degenerativo progrida.
Brasileiros
A pesquisa contou com apoio da FAPESP e a participação de três cientistas brasileiros vinculados à Universidade de São Paulo (USP): Elaine Del-Bel, da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (FORP), Leandro R. S. Barbosa e Rosangela Itri, ambos do Instituto de Física (IF), na capital.
“Temos dados animadores de experimentos com camundongos e uma grande esperança de que o efeito neuroprotetor também possa ser observado em pacientes humanos. Esse tratamento poderia impedir a evolução da doença de Parkinson e, portanto, pretendemos iniciar em breve um ensaio clínico”, disse Del-Bel em entrevista à Agência FAPESP.
História
A descoberta aconteceu há cinco anos, quando Marcio Lazzarini, ex-aluno de Del-Bel, realizava o pós-doutorado no Max Planck Institute of Experimental Medicine, na Alemanha.
Para estudar possíveis alternativas terapêuticas contra o Parkinson em camundongos, o grupo recorreu, naquela época, a um modelo bastante consagrado para induzir nos animais uma condição semelhante à doença humana.
O método consiste em administrar uma neurotoxina – a 6-idroxidopamina (6-OHDA) – que causa a morte dos neurônios dopaminérgicos.
“Mas para nossa surpresa, dos 40 animais que receberam a 6-OHDA, apenas dois desenvolveram sintomas de parkinsonismo, enquanto os demais permaneceram saudáveis. Uma técnica do laboratório percebeu que os roedores haviam sido alimentados por engano com uma ração que contém doxiciclina. Começamos então a investigar a hipótese de que a substância poderia ter protegido os neurônios”, contou Del-Bel.
O grupo repetiu o experimento e acrescentou um segundo grupo de animais que, em vez de receber a doxiciclina pela ração, foi tratado com injeções do antibiótico em doses baixas no peritônio.
“Foi um sucesso nos dois casos. Publicamos os resultados na revista Glia, em 2013, sugerindo que, em doses subantibióticas, a doxiciclina poderia ter um efeito anti-inflamatório, protegendo os neurônios dopaminérgicos”, contou Del-Bel.
Leia aqui o artigo da Nature (em inglês)
Com informações da Fapesp