Você já ouviu falar na psicologia positiva? Ela propõe uma mudança de foco: parar de enxergar só o que vai mal e ver o que dá certo, sem defender que os erros e os pontos fracos sejam ignorados.
A psicologia positiva propõe que a gente observe o quadro completo da realidade. E quem defende essa linha de pensamento é o professor Tal Ben-Shahar (foto abaixo), conhecido por dar as aulas mais concorridas da Universidade Harvard: os chamados cursos de felicidade.
O israelense ensina aos alunos como serem felizes e mais realizados, que é exatamente o foco do SóNotíciaBoa, por isso fomos atrás de algumas entrevistas dadas por Tal Ben-Shahar nos últimos anos, para compreender melhor o trabalho dele e a receita que ele tem para a felicidade.
Fuja do pessimismo
Escritor, conferencista e antigo professor de Psicologia Positiva e Psicologia da Liderança, em Harvard, Shahar explica que é preciso afastar o pessimismo. Ele acredita que o excesso de noticia ruim distorce a realidade humana.
“Historicamente, o pessimismo era uma vantagem evolutiva, porque havia muitos perigos e tínhamos de estar sempre a olhar para trás para sobreviver. Mantemos a estrutura mental e a herança genética dos nossos primitivos antepassados, que é pessimista, preocupada e ansiosa. Por outro lado, as coisas negativas são a exceção e por isso são essas que chegam às primeiras páginas dos jornais – terrorismo, acidentes, guerras, ódios, mortes – enquanto todas as coisas boas que acontecem todos os dias, em todo o mundo, a toda a hora, não são notícia. E isso distorce a realidade”.
Ele explica por que algumas pessoas são felizes mesmo tendo pouco, e outras ricas não são.
“Porque, garantidas as necessidades básicas – comida, casa, saúde, educação –, a felicidade depende da forma como olhamos o mundo e do nosso estado de espírito e não do estado da nossa conta bancária. Mas dinheiro não contribui para a felicidade, o que contribui é estar com as pessoas que amamos e que nos amam, os amigos e a família, fazer exercício físico regular, expressar gratidão pelo que temos e não tomarmos as coisas, e as pessoas, por garantidas. O problema é que cada vez mais pessoas procuram a felicidade no lugar errado”.
Amigos e famíla
“O que realmente interfere na felicidade é o tempo que passamos com pessoas que são importantes para nós, como amigos e familiares — mas só se você estiver por inteiro: não adianta ficar no celular quando se encontrar com quem você ama. Hoje, muita gente prioriza o trabalho em vez dos relacionamentos, e isso aumenta a infelicidade”, alerta.
E para ser feliz, é importante ter amigos, boas relações, o que é difícil nesses tempos de internet e redes sociais.
“Mil amigos no Facebook não substituem um melhor amigo real e infelizmente as amizades estão a desfazer-se à medida que as relações entre as pessoas se estabelecem online. Os estudos dizem que os amigos e as relações são um elemento essencial da felicidade. Temos de tornar uma prioridade das nossas vidas a criação de relações reais, cara a cara”.
Aceite-se
O professor concorda que não se deve buscar felicidade, mas o equilíbrio, porque ninguém pode ser feliz sempre.
“Concordo. A primeira lição que dou na minha aula é que nós precisamos nos conceder a permissão de sermos seres humanos. Isso significa vivenciar emoções dolorosas, como raiva, tristeza e decepção. Temos dificuldade de aceitar que todo mundo sente essas emoções às vezes. Não aceitar isso leva à frustração e à infelicidade”.
Shahar explica que a resiliência é um dos aspetos mais importantes para uma vida feliz. E ensina como se treina:
“A resiliência é como um músculo e, paradoxalmente, a melhor forma de lidar com a adversidade é sofrê-la. Para fortalecer os músculos, tem que os exercitar, pondo-os sob tensão. Para ganhar força psicológica, se quer cultivar a resiliência duradoura, tem de pôr as pessoas perante dificuldades. Por isso, quando falo com pais, sublinho a importância de não protegerem demasiado os filhos e de lhes colocarem dificuldades e contrariedades, para que aprendam a lidar com elas. É muito importante que as crianças aprendam a lidar com os falhanços e ganhem tolerância à frustração. Isto é fundamental para a resiliência e a felicidade ao longo da vida”.
Equilíbrio
O professor Tal Ben-Shahar, que iniciou seu curso em psicologia positiva porque era uma pessoa triste, hoje diz que é feliz.
“Eu me considero mais feliz hoje do que há 20 anos e creio que serei ainda mais feliz daqui a cinco anos. A felicidade não é estática. É um processo que termina apenas com a morte”.
Ele lembra que é importante encontrar o equilíbrio entre as horas trabalhadas e o tempo para a vida particular.
“Procuro desfrutar de coisas fora do mundo do trabalho: passar tempo com minha família, com meus amigos e encontrar um espaço na agenda para a ioga. Tudo com moderação”, conclui.
Por Rinaldo de Oliveira, da redação do SóNotíciaBoa – com informações da Exame e NotíciasMagazine