Uma kombi azul, com cinco jovens autistas, está vendendo quitutes livres de leite e glúten, nas ruas de Brasília.
Lá os amigos aprendem as rotinas do comércio e integram um projeto pra estimular o desenvolvimento de habilidades como atendimento ao público, raciocínio lógico e principalmente a socialização.
O food truck surgiu em 2016 para promover a inclusão e voltou a rodar após passar um ano sem conseguir parcerias.
Os doces e salgados salgados foram oferecidos pela chef Inaiá Sant’Ana, da Quitutices.
Ela disse que via os jovens autistas e terapeutas na loja, mas não sabia que eles estavam parados por falta de quem fornecesse produtos para o público com alergias severas ao leite e ao glúten.
“Dói. Eu sinto um pouco a dor dessas pessoas. Claro que em um grau um pouco menor, mas eu sou celíaca, minha filha teve alergia ao leite, eu entendo o que é não estar incluído”, explica.
“E muitos autistas têm restrições alimentares. Tenho amigos com filhos autistas e com outras necessidades especiais. Entendo a dificuldade que é a inclusão na sociedade.”
Os doces
Os produtos – como brigadeiros, cookies, bolos, brownies, pudins – já são conhecidos dos jovens, que costumavam lanchar no Quitutices durante atividades externas do Instituto Ninar.
Os itens custam a partir de R$ 5, e todo o lucro da venda é revertido à remuneração do grupo e a benefícios à entidade.
A kombi azul sempre fica estacionada na quadra 216 sul, em Brasília.
Terapia na prática
Durante o trabalho os jovens aprendem relacionamento interpessoal e matemática aplicada, em um ambiente terapêutico.
Eles precisam repassar preços, calcular troco e interagir com pessoas. Parece banal para algumas pessoas, mas é um verdadeiro desafio para autistas.
“Compramos uma kombi, reformamos e sonhamos com ela. Por isso, vê-la funcionando é incrível. Temos muitas expectativas em relação ao trabalho terapêutico realizado com cada criança, jovem e adulto que atendemos. Inclusão social, cultural, escolar e alimentar existem e estão ao alcance”, afirma a psicóloga e coordenadora clínica geral do Instituto Ninar, Fabiana de Andrade.
Vendas
O atendimento começa às 10h e os jovens vestem aventais jeans para realizar o serviço, acompanhados dos terapeutas.
Entre os “escalados” para o trabalho, Daniel Bertoni de Assis, de 19 anos, que tem síndrome de Down.
“Vou vender produtos sem glúten e sem lactose. São gostosos”, disse. “[O que eu mais gosto é do que tem] Chocolate.”
A irmã dele, Luiza conta que as atividades do Instituto Ninar fizeram o irmão – que já foi vítima de preconceito – ficar mais animado e criar mais vínculos com amigos.
“Eles levam a criança de novo para o convívio social. Fazem programas, no CCBB [Centro Cultural Banco do Brasil], vão ao shopping. É mais uma tarde de diversão em si. Nos outros lugares, às vezes não existe essa preocupação porque o ritmo é diferente.”
Com informações do G1