Uma ex-catadora transformou a dificuldade em solução para um dos maiores problemas sociais da região do lixão onde trabalhava, em Brasília.
Com quatro filhos pequenos e sem encontrar vagas nas duas creches públicas da Estrutural, a ex-catadora de materiais recicláveis, Márcia Pinheiro, decidiu abrir a própria creche… e gratuita.
Márcia usou a própria casa para acolher os filhos de outras catadoras. A creche fica na chácara Santa Luzia, uma área invadida próxima ao Lixão da Estrutural, o maior da América Latina, fechado no fim de semana.
O projeto Artes e Sonhos ganhou vida no ano passado.
Quatro cômodos da casa, ocupados por seis pessoas, foram transformados em um espaço para acolher até 30 crianças, de segunda a sexta-feira.
“Não aguentava mais trabalhar no lixo. Ai pensei: se eu fizer uma ‘creche’, não vou precisar pagar uma para meus filhos e ainda ajudo outras mulheres.”
Educação transforma
Adepta da teoria de que a “educação transforma”, Márcia passou a oferecer aulas de inglês, pintura e matemática para jovens da comunidade durante o fim de semana.
Aos sábados e domingos a casa recebe, em média, 120 adolescentes. Os professores são todos voluntários.
A catadora Jéssica Matias, de 25 anos é mãe de duas meninas acolhidas na casa de apoio.
Ela conta que a filha mais velha, de 7 anos, já está na escola, mas não teria com quem deixá-la no turno oposto ao das aulas.
A menor, de 1 ano, frequenta a casa de Márcia há dois meses. Jéssica diz que não encontrou vaga para colocá-la em uma creche da rede pública.
A Secretaria de Educação confirma a existência de apenas uma instituição pública na região e outra, conveniada ao Governo do Distrito Federal.
Segundo a secretaria, as duas creches atendem 594 crianças de 4 e 5 anos e não há falta de vagas para esta faixa etária.
A Secretaria de Educação reconhece que cerca de 300 crianças da Estrutural, que estão na faixa etária de 0 a 3 anos – não obrigatória por lei – aguardam por vagas nas instituições vinculadas ao governo de Brasília.
Rede de apoio
O projeto Artes e Sonhos sobrevive de doações e voluntariado.
São sete voluntárias fixas – quatro delas, ex-catadoras.
As outras três voluntárias moram em outras regiões do DF e contribuem com a doação de alimentos e cuidados médicos para as crianças.
Com informações do G1