Um professor desempregado de Sergipe dá aulas de literatura numa rua sem pavimentação no Bairro 17 de Março, em Aracaju.
O trabalho voluntário do professor Luiz Carlos Nascimento começou em novembro de 2017. “O que eu faço é com amor e sou muito respeitado por elas, que serão os futuros homens e mulheres da nossa cidade”, diz.
Do próprio bolso
Não é sempre, mas quando pode o professor retira dinheiro do próprio bolso e compra lanches para a criançada. Uma forma de incentivar a permanência dos alunos e atrair outos meninos e meninas.
“O que mais gosto é de ler e aprender com as histórias que ele nos conta. O professor é muito bom e trata a gente bem. Tio Luiz Carlos é muito legal comigo e com meus colegas do projeto”, afirma Jaycha Rively, de 9 anos, uma das alunas.
“Quero ver a melhoria do bairro em que moro e dessas crianças, que muitas vezes vão à escola e não conseguem aprender o conteúdo. O que eu faço é com amor, com carinho e sou muito respeitado por elas, que serão os futuros homens e mulheres da nossa cidade. A maior recompensa é o prazer de contar histórias e contribuir no processo de alfabetização dessas crianças”, conta Luiz Carlos.
Sala improvisada
A sala de aula improvisada funciona uma vez por semana. Na falta de cadeiras, as crianças acomodam-se no chão e vencem o que seria a primeira barreira para se aproximarem dos livros.
Depois, desvendam o conteúdo literário trazido em uma sacola pelo professor Luiz Carlos.
Quando não está em uso, o material de apoio fica exposto em um varal à espera do próximo interessado.
“A Literatura é a forma de despertar outros conhecimentos científicos, além de promover o prazer estético e dar asas a imaginação desses jovens leitores”, afirma o professor.
Desde o início do projeto, 12 crianças participam das atividades e enquanto os pais estão trabalhando.
“Educação é o meio de transformação sócio- cultural para a vida de cada uma dessas crianças levando respeito, dignidade, conhecimento e independência financeira”, diz com o sorriso no rosto.
Sobreviver
Luiz Carlos já trabalhou em escolas particulares, em programas do governo e atualmente sobrevive dando aulas de reforço em casa, além de fazer ‘bicos’ auxiliando outros professores em projetos educacionais.
No mês passado, tudo isso rendeu a ele pouco mais de R$ 200.
“É assim que consigo pagar as contas da casa, comprar roupas e alimentos. Deus é quem dá a força pra gente superar todas as dificuldades que a vida nos oferece”, afirma.
Sempre atento aos apelos da comunidade, ele tem como meta fazer um trabalho mais intenso com os jovens e adultos que passam o dia trabalhando e ainda não são alfabetizados.
A escritora e coordenadora do Projeto Lê Campo/SE, Jeane Caldas, conheceu o trabalho do professor, e se apaixonou pela causa.
“Ele sempre fez este trabalho, mas agora as ações de leitura foram intensificadas, porque conseguimos que fizesse parte do projeto Rede Ler e Compartilhar e Eu Leio, que fazem parte do programa nacional de incentivo à leitura.
O programa disponibiliza sacolas circulantes com 30 livros e oferece formação continuada para os professores e mediadores de leitura, mas não paga nada por esse trabalho. Entrei na parceria por meio da Secretaria de Estado de Educação”, conta.
Superação
O professor nasceu no município de Malhada dos Bois e foi criado em Cedro de São João, ambos na Região do Baixo São Francisco de Sergipe.
Luis é o mais velho entre nove irmãos, o único com nível superior, conquistado no ano de 2012 após cursar Letras/Português em uma universidade particular na capital.
“Concluí a graduação com muita dificuldade financeira, pois estava desempregado. Tive a ajuda de familiares e principalmente de uma ex-diretora da instituição, que me ajudou bastante nesta fase da minha vida”, relembra.
Com informações do G1