Um processo químico desenvolvido por cientistas canadenses, da Universidade de British Columbia (UBC), em Vancouver, transforma resíduos gordurosos, em fonte de energia renovável.
A técnica transforma óleo de cozinha em gás metano para gerar eletricidade. O estudo foi publicado na revista Water, Air, & Soil Pollution.
Segundo Victor Lo, um dos autores do estudo, pela simplicidade do processo será possível utilizá-la dentro de casa.
Como
“O princípio seria o mesmo: você faz o pré-tratamento desses resíduos para não entupir os canos de onde mora”, garantiu.
Pelo experimento, os compostos de gordura são aquecidos a temperatura entre 90°C e 100°C e, em seguida, recebem peróxido de hidrogênio, um produto que estimula a decomposição da matéria orgânica.
Em testes, o tratamento reduziu o volume de sólidos presentes nos óleos gordurosos em até 80%.
Também liberou ácidos graxos, que permitiu a passagem para a segunda etapa do tratamento, quando o material é decomposto por bactérias.
Ao se alimentar do material orgânico abundante nos restos gordurosos, os micro-organismos podem produzir gás metano.
“Esses óleos são uma excelente fonte para as bactérias, que podem transformá-los em uma fonte de energia renovável e valiosa. Mas, se eles forem muito ricos em orgânicos, as bactérias não podem lidar com isso, e o processo se torna ineficiente. À temperatura certa, asseguramos que esses resíduos tenham potencial para gerar grandes quantidades de metano”, explica Asha Srinivasan, principal autora do estudo e pesquisadora da UBC.
Agricultura
Segundo Asha Srinivasan, os óleos submetidos ao processo químico também podem ser de grande auxílio para a área agrícola, que se beneficiaria com melhoramento na fabricação do metano.
“Geralmente, eles são misturados com lodo de esgoto ou esterco, mas sem passar por um processo de decomposição, esses resíduos não podem ser usados diretamente em um biodigestor para produzir biogás.
Por isso, atualmente, apenas uma quantidade limitada desses óleos pode ser usada para esse fim”, explica.
“Os agricultores normalmente restringem o uso desse resíduo a menos de 30%. Com a nossa técnica, esse número pode subir para 75%. Você teria duas vantagens: reciclaria mais resíduos de óleo e produziria mais metano ao mesmo tempo.”
No Brasil
Luiz Alberto Cesar Teixeira, professor do Departamento de Engenharia Química e de Materiais do Centro Técnico Científico da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), diz que a tecnologia traz solução para um problema de escala global.
“Somente no Brasil, pode-se estimar que mais de 200 milhões de litros desses resíduos são gerados mensalmente e que, atualmente, apenas 1% seja seletivamente coletado e tratado”, diz.
O professor lembra que o descarte inadequado pode provocar a contaminação de mananciais utilizados para a captação e o tratamento de água para consumo humano.
Segundo ele, hoje, são adotadas diferentes abordagens para evitar o problema.
Desde a mais simples, com o aproveitamento do poder calorífico para queima e economia de combustíveis em fornos de coprocessamento com cimento, até a produção de biodiesel.
“Há ainda a fabricação de sabão e ração animal. A estratégia canadense poderia ajudar a reduzir esse problema surgindo como uma nova estratégia de reciclagem”, acredita.
Com informações do Correio Braziliense e SmithSonian