Em vez de remédios para dores, um tratamento feito à base de luz.
O remédio digital foi criado pelo físico Marcelo Sousa, fundador da Bright Photomedicine. Ele desenvolveu um remédio digital que será testado em pacientes que sofrem com artrose no Hospital das Clínicas de São Paulo, no início de 2019.
Assim como o organismo reage para combater a dor quando recebe uma substância química, o corpo deve reagir ao receber luz do aparelho desenvolvido pela empresa de Marcelo Sousa.
Quando a região afetada recebe a luz, as células reagem à dor e passam a produzir remédios para combatê-la.
“A artrose causa dor e inflamação e um desgaste na cartilagem. A gente envia um remédio digital de luz que é capaz de tratar esses três problemas”, explica Marcelo Sousa.
“Já se sabe que a luz tem um efeito anti inflamatório e antioxidante, ela age no sistema nervoso central aumentando a produção de substâncias analgésicas”, afirma Hazem Ashmawi, médico especialista em dor do Hospital das Clínicas (HC) de São Paulo.
No mundo, de acordo com Hazem, estima-se que 25% a 30% da população mundial sofra com dor crônica.
Marcelo Sousa – Doutor em fotoneuromodulação (área que estuda os efeitos da luz nos neurônios) – garante que seu produto é capaz de tratar 90% dos tipos de dores, inclusive dores crônicas, um problema que atinge 37% dos brasileiros, segundo pesquisa da Sociedade Brasileira para Estudo da Dor (SBED).
Investimentos
Para fazer o projeto acontecer, Sousa fundou uma startup com capital inicial de 200 mil reais e recebeu 600 mil reais de investidores interessados no produto, além de 1 milhão de reais da Fapesp para desenvolver sua pesquisa.
Para ir ainda mais longe, a empresa abriu um financiamento coletivo aberto para quem quiser colaborar com os estudos do remédio digital.
A decisão de abrir uma empresa para desenvolver o remédio digital aconteceu para que os testes acontecessem mais rápido e pudessem abranger um público maior. O pesquisador também espera que o dispositivo possa ser comercializado em farmácias um dia.
Testes
Os pacientes serão divididos em três grupos de 30 indivíduos: um de pessoas saudáveis, outro de pessoas com a doença que receberão o tratamento com o dispositivo e o último receberá um placebo.
Os pacientes receberão dez aplicações do remédio digital durante o tratamento. “Queremos ver se o remédio diminui a dor e a funcionalidade do paciente”, diz Ashmawi.
São dois fatores que determinam a dose de remédio digital para cada paciente: as características da doença que está sendo tratada e as características do paciente, como cor de pele, peso, idade e gênero.
A artrose é uma doença que atinge principalmente a população idosa e causa limitação de movimento, dor e inflamação. Preocupados com o avanço da doença causado pelo envelhecimento da população, a equipe de Sousa e do HC espera poder oferecer uma solução.
“É uma doença que não tem soluções de tratamento pela medicina”, afirma Ashmawi. O remédio digital, no entanto, não promete uma cura. “É um tratamento para dor e perda de função”, explica.
“É um tratamento complementar ao analgésico”, afirma Sousa.
Os especialistas, no entanto, estão otimistas.
Estudos iniciais da Bright Photomedicine apresentaram resposta positiva com 80% dos pacientes que sofriam com diversos tipos de dores crônicas.
Sem efeitos colaterais
O aposentado Marcos Salles, 82 anos, foi um dos pacientes que participaram dos testes em abril. “Tenho um problema no joelho e ando de muletas, já fiz todo tipo de tratamento e até cirurgia”, conta.
Há mais de 20 anos, Salles sentia dor a todo momento. “Tudo o que existe de remédio eu já tomei, até aquele que matou o Michael Jackson”, diz.
Desde que passou pelo tratamento com a fototerapia, no entanto, Salles não toma mais nenhum analgésico para a dor no joelho. “Não sentir dor é uma maravilha”, afirma.
Evitar efeitos colaterais provocados pelo consumo excessivo de medicamentos a quem sente dor é um dos objetivos do remédio digital.
O físico espera que quem gasta demais com remédios possa economizar. O tratamento de dez doses do remédio digital, que dura em média dois meses, custará de 300 a 600 reais.
Com informações da Exame