A história superação, a garra e determinação desse professor cego e cadeirante é uma lição de vida que contagia alunos e colegas de profissão.
Aos 13 anos, Osvaldo Fernando Moreira – hoje com 29 anos – teve doença rara degenerativa que tirou a visão e parte dos movimentos das pernas dele. Mas ele não desistiu. Além de dar aulas, Osvaldo lava, cozinha e limpa a casa dele.
Formado em pedagogia, ele inspira alunos do 5º ano do ensino fundamental de uma escola de Rio Claro, no interior de São Paulo.
Moreira é concursado na Escola Municipal Jovelina Morateli, no bairro Mãe Preta, onde sente-se realizado pela profissão que diz ter se apaixonado logo nos primeiros meses da graduação.
“Eu não falo que não consigo, que é impossível fazer algo. Para mim, essa palavra não funciona, não. Eu persisto nas coisas e até fico admirado pelo que faço”, disse ao G1.
História
Moreira nasceu saudável, mas na adolescência foi diagnosticado com a síndrome de Devic, uma doença autoimune que acomete o sistema nervoso central. Em uma semana, perdeu a visão e parte dos movimentos das pernas.
O tratamento começou em 2001 no Centro de Habilitação Princesa Victoria (CHI) onde se aproximou de pessoas com dificuldades semelhantes.
Lá aprendeu a se comunicar em braile e logo passou a dar aulas para crianças com deficiência visual e múltiplas deficiências. Seis anos depois, prestou concurso e, em 2008, passou a trabalhar na unidade.
“Eu ensinava braile, informática adaptada para cegos, adaptava material e orientava professores da rede ensino. Sentia a necessidade cursar pedagogia para oferecer mais qualidade aos alunos”, contou.
Ao concluir a graduação, Moreira prestou outro concurso para professor da rede municipal de ensino e, em maio deste ano, teve que se desligar do CHI.
A recepção
O professor lembra que teve receio em relação ao primeiro dia de aula, porque não sabia o que iria encontrar. Ele não conhecia a escola, os professores, não sabia se o prédio era adaptado e não tinha noção de como seria recebido pelos pais e alunos. A experiência, entretanto, o surpreendeu.
“As crianças são curiosas, perguntaram por que tinha ficado doente, como uma pessoa cega enxerga, como eu fazia em casa. Contei a minha história e elas ficaram surpresas por eu conseguir fazer tantas coisas. Com isso, foi quebrando aquele gelo. No primeiro dia de aula saí muito feliz pela receptividade dos alunos e da escola”, disse.
Segundo Moreira, a Secretaria Municipal de Educação fez algumas melhorias no prédio da escola, como rampas e adaptações no banheiro. As portas largas e sala ampla facilitam a circulação entre os alunos. “Eles vêm, pegam minha cadeira e levam até o lugar deles. Leem a pergunta, a resposta e dou as orientações”, contou.
A professora Ana Cristina de Souza Cruz auxilia o trabalho. “Quando tem explicação na lousa, eu falo e ela escreve. Ela é como se fosse meus olhos e braços. Discutimos e planejamos o conteúdo aplicado, as crianças têm sorte por terem dois professores”, disse ele.
Independência
Há 4 anos o professor comprou um apartamento e desde então vive sozinho.
Ele aprendeu a fazer feijão, carne de forno, torta, bolo e outras receitas que pega na internet. E diz que também limpa a casa e lava roupas.
“Sempre fui ligado à família, porém sempre fez parte da minha personalidade ser mais independente. Apesar disso, nunca estou sozinho, meus pais, irmãos e amigos estão sempre em casa”, contou.
Superação
Religioso, o professor disse acreditar que Deus tem um propósito para tudo.
“Talvez se eu não ficasse doente, não iria conseguir mostrar para as pessoas que há possibilidade e que não é preciso só reclamar dos problemas. Com a minha história, acabo transformando a vida de algumas pessoas”, disse.
Para ele, superação é uma capacidade do ser humano, basta querer fazer e se esforçar.
“Aceito a minha condição de ter duas deficiências, mas eu não me conformo porque senão não vou conseguir viver em paz, ser feliz. A ciência está avançada, a gente não sabe o dia de amanhã. Do mesmo jeito que fiquei doente posso recuperar. Eu acho que lamentar e reclamar de um problema não vai fazer com que consiga resolvê-lo, As pessoas têm que tem ter mais ação e força de vontade para seguir frente”, concluiu.
Com informações do G1
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