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Ele trocou 20 anos de crack pelas corridas, pensando no filho
25 de março de 2018
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Wagner (de azul) e o treinador Rafael Santos - Foto: Marcos Lavezo/G1|Wagner Marques dos Santos - Foto: Marcos Lavezo/G1
Wagner (de azul) e o treinador Rafael Santos - Foto: Marcos Lavezo/G1|Wagner Marques dos Santos - Foto: Marcos Lavezo/G1

Após 20 anos mergulhado no submundo do crack, à beira da morte, um morador de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, mudou de vida. Trocou a droga pelas corridas e já está há 1 ano “limpo”.

O encanador Wagner Marques dos Santos, 40 anos, conta que encontrou na corrida de rua sua salvação. No esporte, ele está se superando e quebrando seus próprios recordes. O principal deles é o “mais um dia” sem consumir a droga.

Wagner lembra que a motivação para deixar as duas décadas de dependência química foi o mau exemplo que passava para o filho.

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“No dia em que beirava a morte, no banheiro de casa, pensei no meu filho chorando e contando aos amigos que o pai havia morrido por fumar crack”, disse ao G1.

Sem condições de pagar por um tratamento, a alternativa que encontrou foi começar a correr. No início, o encanador conta que colocava uma das únicas peças de roupa que tinha e corria pelo Jardim Arroyo, zona norte de Rio Preto.

“Comecei a perceber que a sensação me fazia esquecer o crack. No entanto, ainda sentia vontade. ”

Conseguir transformar seu cotidiano sem um tratamento específico foi a conquista mais difícil. “Eu mal me alimentava. Não gostava de tomar banho, parecia um bicho. Agradeço muito ao esporte e aos amigos que continuam me ajudando.”

Ela conta que que depois de começar a correr diariamente, passou a se sentir melhor. E o passo seguinte foi competir pela primeira vez em uma corrida de rua.

Competindo

Wagner lembra que uma amiga pagou a inscrição para uma meia maratona e, no dia, os olhares voltados a ele eram de incompreensão. Sem dinheiro, ele usava calça social e botina para percorrer uma distância de 21 quilômetros.

“Eu olhava o pessoal vestindo aquelas roupas “engraçadas” e não conseguia entender porque se vestiam daquela forma. Na minha cabeça a necessidade de usar roupas apropriadas era pura frescura”, brinca.

Durante a corrida, os outros competidores o incentivaram e torceram por ele. Ao terminar a prova, decidiu que iria continuar treinando para esquecer o crack.

“O pessoal olhava eu correndo e gritava: vai guerreiro, não desiste nunca. Parece que eles sabiam que eu precisava muito daquelas palavras”, relembra.

Treinador

Foi entre as provas e os treinos de corrida que Wagner conheceu o seu atual educador físico, Rafael Santos, que o convidou a fazer parte de um grupo de corrida, formado pela assessoria esportiva que montou.

“Sinto-me extremamente feliz, é como se fosse minha família. Estou rodeado de pessoas que querem meu bem e se preocupam comigo”, diz Wagner.

Wagner lembra que os anos dedicados ao vício quase o levaram a morte. “Por duas vezes não morri porque não era a hora. Lembro como se fosse hoje. Na segunda, decidi tentar parar pelos meus filhos. Minha consciência pesou”, relembra.

Wagner Marques dos Santos - Foto: Marcos Lavezo/G1
Wagner Marques dos Santos - Foto: Marcos Lavezo/G1

História

Nascido em 1977, na cidade de São Paulo, ele nunca conheceu a mãe, nem o pai.

Foi criado pela a tia-avó e desde pequeno trocou as brincadeiras de crianças pelos pedidos de esmola nos faróis e ruas.

“Naquela época não havia alternativa. Tinha que conseguir dinheiro e levar para casa”, diz.

Ao passar mais tempo na rua do que em outro lugar, conviveu com usuários de drogas e chegou a ser internado em um orfanato.

Ele conheceu o crack quando chegou a São José do Rio Preto.

“Comecei a usar por decisão minha, olhava todo mundo usando e pensei que não faria mal. Pior atitude que tomei em toda minha existência”, lamenta.

Vida nova

Hoje, Wagnão, carinhosamente apelidado pelos companheiros, sai da empresa onde trabalha como encanador e vai até a represa de Rio Preto treinar.

“Já participei de muitas corridas. Inclusive duas meias maratonas e duas São Silvestre. Na São Silvestre consegui ficar entre os 700 primeiros de 30 mil inscritos”, relata.

Além das conquistas, o atleta construiu a própria casa, no Jardim Arroyo, com o dinheiro que ganhou trabalhando como encanador. “Eu fui construindo devagar. Ganhava um pouco de dinheiro e comprava os materiais.”

Agora ele tem outro sonho: “Um dos meus sonhos já está realizado. Estou longe das drogas, trabalhando. Agora, meu objetivo é começar a treinar para competir no triatlo.”

Com informações do G1

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