Ainda ressentido por ter sido vaiado e hostilizado em São Paulo, Roger Waters teve uma recepção bem diferente em Brasília. Emocionado, ele chorou no palco com o carinho dos fãs neste sábado, 13, no Estádio Nacional Mané Garrincha.
Quando a platéia percebeu, aplaudiu Waters durante um minuto até ele se recompor. Visivelmente abalado com a reação, ele cruzou os braços e bateu no peito em sinal de agradecimento. (assista abaixo)
Já refeito, ele se dirigiu à plateia: “Precisamos que um pouco do amor desse lugar se espalhe pelo mundo. Para manter o planeta habitável para os nossos filhos e os filhos dos nossos filhos”, disse.
“Para isso, temos que nos perguntar se acreditamos nos direitos humanos universais. Eu acredito. Acredito que a maioria aqui também. Desculpe, mas não vejo muitos direitos igualitários rolando aqui no Brasil. Em São Paulo, as pessoas começaram a brigar. Na segunda noite, eu disse: ‘em vez de brigar, vamos guardar a energia para resistirmos aos malditos porcos”, disse.
A fala acendeu na plateia a polarização política das eleições presidenciais e provocou gritos de “ele não” e “mito”, mas de forma pacífica, democrática, sem agressões.
Mas logo a música uniu os fãs novamente em um coro vibrante durante o “hino” Comfortably Numb e a plateia deu outra mensagem de carinho ao medalhão do rock cantando “olê, olê, olê, Roger, Roger”.
Desde Paul McCartney, em 2014, o Mané Garrincha não acolhia um show tão alucinante na arena.
Resist
Na apresentação em Brasília, Roger Waters repetiu o protesto “Resist”, contra tudo que agride a humanidade e o meio ambiente, mas desta vez sem citar explicitamente o nome do candidato à presidência Jair Bolsonaro. No lugar apareceu “ponto de vista censurado”, no telão gigante. (vídeo abaixo)
A tela com o título Resist Neo-Fascism – Resista ao Neofascismo, em tradução livre – exibia nomes de políticos como Donald Trump e Valdimir Putin, presidentes dos EUA e da Rússia e no final da lista a alusão a Bolsonaro.
Depois surgiu outra provocação “nem fodendo” no lugar do “#elenão”, exibido na primeira apresentação da atual turnê Us + Them no Brasil, em SP.
Quem conhece as origens de Roger Waters – que teve o pai morto pelo fascismo na Segunda Guerra Mundial – sabe que há décadas ele é assim.
O artista sempre protestou contra a violência, o “Resist” foi mais uma manifestação contundente dos ex-letrista e compositor do Pink Floyd, uma das maiores bandas da história do Rock mundial.
Another Brick in the Wall
Houve uma catarse na hora da música Another Brick in the Wall, uma faixa do álbum The Wall, composta pelo baixista Roger Waters.
Crianças brasileiras encapuzadas, usando uniforme laranja de prisão, entraram no palco para teatralizar a canção.
No meio da música, elas tiraram a parte de cima da roupa e apareceu a palavra Resist nas camisetas que vestiam na parte de baixo. O público vibrou cantando “hey teacher, leave the kids alone”.
Foi aí que Waters falou com o público pela primeira vez. “Essas crianças são de Brasília”, revelou.
Resist
Depois da primeira parte do show, Waters anunciou um intervalo de 20 minutos e avisou: “Depois, voltamos e continuamos a resistência”.
Surgiu no telão a palavra “Resist”, com mensagens de protesto sobre temas diversos, de antissemitismo à conscientização sobre os perigos da poluição. Até Mark Zuckerberg, o criador do Facebook, foi criticado.
O presidente dos EUA, Donald Trump, foi ridicularizado: apareceu com a maquiagem de Marilyn Monroe, com corpo de porco e nu, com um órgão sexual ínfimo.
Dogs e Pigs (Three Different Ones) embalaram críticas diretas a Donald Trump, com exibições de frases polêmicas do presidente dos EUA no telão e áudios de entrevistas do americano.
Antes da música Money, surgiram os dizeres “Trump é porco” — assim mesmo, em português.
Show de tecnologia
A música, sem dúvida, foi o ponto alto do concerto, mas o que também levou multidão de 54 mil pessoas ao delírio foi o show de tecnologia e efeitos especiais que Waters trouxe para o Brasil.
Um prisma gigante – símbolo do disco The Dark Side Of The Moon” – feito de laser azul, surgiu como uma pirâmide imaginária imensa sobre a cabeça dos fãs que ficaram no gramado, perto do palco.
Em seguida, surgiu o arco-íris que corta o prisma, igualzinho ao do disco dos anos 70. Foi impressionante.
Surpresa também no telão gigante, que ia de ponto a ponto do gramado, com uma definição de imagem incrível, capaz de fazer o pessoal que estava no alto das arquibancadas identificar até fios de cabelos que apareciam na exibição.
O telão foi usado durante toda a apresentação, um verdadeiro show cinematográfico para traduzir em imagens as mensagens que Roger Waters passa em cada canção.
O show de efeitos especiais também teve realidade. As chaminés das fábricas que apareciam no telão, aos poucos foram surgindo fisicamente atrás da tela e de repente emitiam fumaça…
Realidade também com o porco inflável gigante que sobrevoou o gramado com a frase “Stay Human”- “Seja humano”, em tradução livre.
Veja alguns momentos do show histórico no Mané Garrincha:
Por Rinaldo de Oliveira, da redação do SóNotíciaBoa