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Cavalos brasileiros doentes melhoram com células-tronco
13 de maio de 2019
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Foto: reprodução / TV Globo
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As células-tronco que podem curar humanos têm o mesmo efeito para tratar doenças em cavalos. A terapia está sendo usada por pesquisadores da Unesp, em Botucatu, no interior de São Paulo.

Pelo menos quatro equinos tratados com essa terapia revolucionária já apresentaram resultados positivos: Quisling e Bamba foram diagnosticados com bambeira. Comanche, com uma fratura grave, com múltiplos fragmentos. Dama teve um tendão lesionado.

A pesquisadora Ana Liz Garcia Alves estuda células-tronco na faculdade de medicina veterinária da Unesp,  há 14 anos. “A célula-tronco melhora muito a qualidade de reparação da lesão”, diz.

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“A função mais importante dessa célula, que a gente vê hoje, são ações indiretas, principalmente de regular a função imune do organismo, uma ação anti-inflamatória, que minimiza a morte celular, e uma ação de melhorar ou aumentar o número de vasos sanguíneos na região.”

Células-tronco

As células-tronco existem nos embriões, antes da formação dos fetos, e também em animais adultos, onde há estoques para a renovação natural do corpo.

São células bem novas, que ainda não ganharam missão específica para virar, por exemplo, ossos, músculos, órgãos do corpo. Por isso, elas podem atuar em todo o organismo.

As células adultas, usadas na pesquisa, podem ser retiradas da gordura acumulada na garupa, abaixo da pele, por exemplo, ou da medula óssea (ou tutano), líquido que fica dentro dos ossos do cavalo.

No laboratório, essas células-tronco são separadas das células comuns e multiplicadas. “Um pequeno fragmento de gordura, a gente consegue expandir em 20, 30 milhões de células”, diz Alice Maciel, veterinária e mestranda da Unesp.

O material já pronto é conservado a temperaturas baixíssimas, de onde só sai para ser aplicado em cavalos dentes.

Fraturas

Na ortopedia, as células-tronco são usadas nas fraturas e para tratar tendinites, osteoartrites e artrites dos equinos.

Comanche teve uma fratura grave, em múltiplos fragmentos. Além da cirurgia para a colocação de pinos e imobilização, ele recebeu células tronco no ponto da fratura. Ele se recupera bem e já está em casa.

“Entra como um complemento, acelerando a regeneração óssea. O que é interessante, é que em muitos casos de fraturas de membro de equinos, principalmente as graves, nós tínhamos que sacrificar os animais”, explica a doutora Ana Liz.

Fertilidade

Outra frente de pesquisa avança na área reprodutiva, para o tratamento da endometrite, uma infecção que ataca o útero e pode levar à infertilidade.

“Nós escolhemos um grupo de éguas que tinham um problema de fertilidade grave, que já não gestavam, não produziam embrião, a maioria delas era doadora de embriões”, conta o veterinário Marco Antonio Alvarenga.

As células são aplicadas na parede do útero. Segundo o doutor Marco Antonio, das 15 éguas tratadas com a tecnologia, 6 voltaram a ter a função uterina e ficaram praticamente curadas da infecção e 8 retomaram a ter capacidade de produzir embriões.

Essa aplicação ainda é feita exclusivamente na universidade por conta da técnica, que requer equipamentos caros. Mas a terapia celular avança no mercado.

Quando começou a ser usada comercialmente, há pouco mais de uma década, a célula precisava vir do próprio animal que seria tratado. Só que, de lá para cá, os cientistas descobriram que não havia rejeição entre indivíduos da mesma espécie. Isso permitiu a criação de bancos de células-tronco, o que facilitou muito o acesso a esse tipo de serviço.

Hoje, o Brasil tem 7 bancos de célula tronco privados, a maioria para pequenos animais, como cachorros e gatos. Mas o mercado dos grandes existe e atende, principalmente, cavalos de competição.

Lesões

Égua quarto de milha, Dama é atleta e faz prova de 3 tambores. Segundo o cavaleiro Rodrigo Papadopoli, é uma das melhores que ele já teve. Ela tem rompimento de fibra no tendão, problema de atleta, e está sendo tratada em Tietê, no interior de São Paulo.

Dama vai receber uma aplicação de células-tronco na lesão. O procedimento custa cerca de R$ 2,5 mil. Enquanto a égua é sedada por um veterinário, outros descongelam as células, que vieram de um banco privado na região de Campinas.

As células chegam com um conservante, para que sua membrana seja protegida e não se rompa, e precisam ser separadas. E tem que ser usadas em até 10 minutos para não perder o efeito, segundo o veterinário Tiago Daolio. O ultrassom guia os profissionais e a agulha libera as células em cima da lesão.

“Antes de usar a terapia celular, a gente conseguia fazer algumas terapias que, na minha opinião, não eram tão efetivas no tempo, na qualidade do tecido e na rapidez da cicatrização”, avalia o veterinário Alfredo Ferri.

Dois meses após a aplicação das células-tronco, Dama teve o preenchimento do tendão, uma cicatrização da lesão.

Bambeira

O tratamento também está mudando o enfrentamento a uma doença muito temida: a EPM, mais conhecida como bambeira, que faz com que o animal perca a estabilidade ao caminhar.

Ela é provocada por um protozoário encontrado em animais silvestres, como o gambá. As fezes podem contaminar alimentos e, por consequência, os cavalos. O protozoário ataca o sistema nervoso central e embaralha as ordens entre o cérebro e os músculos.

A criadora de cavalos Claudia Santana, de em Pelotas, no Rio Grande Sul, tem cavalos campeões em provas da raça crioula. A Rastra Pampa estava nesse caminho quando seu treinador percebeu que sua garupa estava indo para o lado quando ela trotava. Na hora de fazer as curvas, quase caía.

A égua fez um tratamento delicado com as células-tronco, no qual elas são introduzidas na medula espinhal. Rastra Pampa está evoluindo. O resultado aparece em 20 a 30 dias, segundo os veterinários.

O doutor Rogério Amorim, da Unesp, estuda o uso de células-tronco para doenças neurológicas. Testou o protocolo em 9 animais, com bons resultados.

“É importante destacar que não estamos propondo que se use as células-tronco mesenquimais como a primeira alternativa terapêutica para casos de EPM. O tratamento hoje preconizado e reconhecido, cientificamente comprovado, é o tratamento com antiprotozoários. No entanto, um percentual dentro de 30% a 40% dos cavalos acometidos ficam com sequelas e é exatamente essa sequela que nós queremos melhorar”, explica.

Quisling veio da França e é atleta do hipismo brasileiro. Em 2016, foi diagnosticado com bambeira e não seria montado de novo. O tratamento convencional mais as células tronco deram nova vida ao cavalo.

“Se ele voltar a competir, ótimo. Se não, vou fazer uma coisa boa para ele e desenvolver um tratamento de uma doença que hoje não tem cura. E se a gente conseguir melhorar a vida dos cavalos com isso, já contribuímos com alguma coisa”, diz o criador Francisco Cirne Lima.

Quisling não só voltou a competir, como foi vice-campeão de hipismo na categoria sênior top, uma das principais do esporte.

As notícias são animadoras, mas a célula-tronco não é milagrosa. No Brasil, o uso dessa terapia, em animais, ainda está sendo regulamentado. É permitido, mas é preciso definir protocolos e, principalmente, mais pesquisa para entender bem a eficácia da terapia celular para cada uma das doenças.

Os estudos tratados na reportagem são todos de universidades públicas brasileiras. Ou seja: é um investimento que traz resultados positivos para toda a sociedade.

Com informações do GloboRural

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