Um professor e ex-catador de latinhas brasileiro, que estuda em Harvard, desenvolveu um sistema operacional executável barato – de pouco mais de R$ 20 – para ajudar estudantes de baixa renda a estudarem online nesta pandemia.
Ciswal Santos, de 31 anos batizou o aparelho eletrônico de HYTEC One, que significa “Oi, tecnologia”.
Em entrevista ao SóNoticiaBoa, Ciswal explicou que não se trata de um computador, como alguns veículos de imprensa estão divulgando.
“É um sistema operacional executável. A ideia é que os alunos possam ter acesso ao Classroom, assistir a uma video-aula, um Youtube, ler um arquivo em PDF, Word, uma planilha, um Excel que o professor transmita. Ele é voltado para a educação, para os estudantes terem acesso ao ambiente de aula, digitarem e postarem o seu trabalho com esse aparelho acoplado a uma TV ou qualquer outra coisa. Não vai servir para uma empresa. Por isso é errado dizer que é um computador”, afirmou.
Nascido em Palmares, Pernambuco, Ciswal também é autor de um projeto de geração de energia sustentável, captação de água e acesso à internet por baixo custo, que o SóNotícia mostrou em janeiro deste ano. A primeira vez que falamos dele aqui foi em 2018, quando o brasileiro passou em Harvard.
“Ainda estudo em Harvard por EAD, Ensino à Distância. Comecei em 2019. Faço Ciências da Computação”, disse ao SNB.
A ideia
Ciswal teve a ideia de criar o sistema operacional executável por causa do isolamento social provocado pela pandemia da Covid-19. Ele ficou incomodado com o fato de os alunos terem que assistir aula remotamente, sendo que muitos não têm acesso a um computador.
“Um computador hoje é bem caro. A falta de acessibilidade me deixava desconfortável desde cedo”, disse ao Diário do Nordeste.
Foi quando ele resolveu criar um equipamento que rodasse programas básicos, como reprodutor de mídias, criação de texto, planilhas e slides.
Componentes
Com apenas 22 reais, Ciswal criou um aparelho eletrônico com duas partições e o uso de um cartão de memória SD como um HD de computador.
A memória primária dele está numa conta drive, em nuvem. O aparelho tem capacidade de recepcionar sinal wi-fi e mede aproximadamente três centímetros.
O aparelho pode ser transportado no bolso, mas precisa de uma tela, seja TV ou aparelho celular, para ter acesso ao sistema Windows, que dá acesso à internet e programas como Word, PowerPoint e Excel.
No entanto, isso é provisório, já que Ciswal está desenvolvendo seu próprio sistema operacional, que acredita que deverá ficar pronto em até quatro meses.
“Vai ser um sistema de fácil acesso para idosos, crianças, para quem não tem noção de informática. Será muito instrutivo”, acredita o professor.
Patente
Ciswal disse ao SóNotíciaBoa que está patenteando o produto.
Ele já recebeu proposta de um grupo de empresários de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, que querem investir na ideia e popularizar o aparelho no continente africano.
“Minha intenção era que se popularizasse primeiro no Brasil. Queria muito que governos, seja federal, estadual, municipal, não importo qual for, investissem. Eu defendo a necessidade do povo. Queria muito que alguns destes pudesse popularizar. Dar acessibilidade aos jovens, condições de estudo. Para não estar passando o que passei”, defende.
Caso não apareça ninguém interessado em implantar o projeto no Brasil, mais uma vez, Ciswal deverá colocá-lo em prática fora do País, como aconteceu com o projeto que o levou a estudar em Harvard, que está sendo desenvolvido em nações africanas.
“Mas a prioridade é do Nordeste, do Ceará. Vou trabalhar em prol da população daqui”, afirmou.
História
Nascido em Palmares (PE), Ciswal se mudou para Juazeiro do Norte na adolescência quando seu pai, também professor, foi transferido para Serra Talhada (PE).
Com família devota do Padre Cícero, optaram por ficar na terra do sacerdote. Após a separação dos pais, as dificuldades apareceram. Sua mãe ganhava R$ 15 por faxina.
O valor era pouco para o jovem se manter na escola e sustentar a casa e, por isso, resolveu trabalhar em um mercantil entregando as feiras de bicicleta.
Quando entrou na faculdade, antes de completar os 16 anos, o professor teve que buscar no lixo a solução para seu sonho de continuar estudando. Foi aí que Ciswal resolveu catar latinhas para reciclagem. O quilo do material custava R$ 2. Em uma semana, conseguia três quilos e meio. Era com isso que pagava xerox, apostila, livros e impressões.
Computação e inspiração
Antes da chegada a Juazeiro do Norte, Ciswal lembra que, aos oito anos de idade, desejava muito fazer um curso de computação.
“Pedi muito para meu pai, mas o valor do curso era a feira da gente”, lembra. Sem condições financeiras, sua família o colocou para estudar datilografia.
“Quando estava terminando o HYTEC One, lembrei desse episódio. Se, naquela época, um Ciswal tivesse aparecido ou o governo entregasse isso, o que eu estaria fazendo hoje? São coisas que fazem a gente ter empatia com o próximo”, finaliza.
Por Rinaldo de Oliveira, da redação do SóNotíciaBoa – com informações do Diário do Nordeste