A entrevista que você vai ler nesta reportagem foi digitada com um dos pés do Maurício Campos Júnior, o Junoca, um brasiliense que tem paralisia motora, não mexe 95% do corpo desde que nasceu e mesmo assim, agradece a cada dia dessa vida por ser uma pessoa inteligente, divertida, por ter encontrado o amor da vida dele e fugido pra se casar com ela, a pedagoga baiana Allana Magalhães Campos, de 43 anos.
“Quero mostrar pras pessoas que pra ser feliz é simples. É só descomplicar. Que mesmo de cama, posso viver normalmente. Que a vida tem a cor que você pinta. E olha que eu não mexo quase 95% do meu corpo e sou muito, muito, muito feliz. Vale muito a pena viver”, digitou Junoca no computador com um mouse adaptado.
A história impressionante de superação, determinação e fé desse brasileiro rende um livro. Junoca, de 47 anos, nunca foi à escola e não cometeu um erro sequer de pontuação, nem de português, nessa longa conversa por escrito que teve com a reportagem do SóNotíciaBoa.
“Eu nunca tive a oportunidade de estudar, mas a minha mãe me ensinou a ler em casa. Aprendi a maioria das coisas através e da extinta TV Nacional e na Rádio Nacional AM de Brasília. Por último, aprendi sozinho a escrever no computador, quando estive no Hospital Sarah Kubitschek de Brasília. Escrevo com o pé direito utilizando um mouse adaptado… Eu mexo em tudo com o pé, sou capaz de fazer qualquer coisa com ele e para telefonar eu uso o nariz, ou o queixo. Eu nem sei como é que eu consigo fazer tudo isso”, brincou Junoca.
Cadeirante fora da cadeira
Conhecido como o “cadeirante fora da cadeira”, ele explica que perdeu os movimentos porque ficou vários minutos sem respirar após o parto, feito a fórceps, no dia 29 de dezembro de 1972. Isso causou a paralisia cerebral, que dificulta também a fala de Junoca. É difícil entender tudo o que ele fala, mas a esposa Allana compreende e traduz.
“Sou um milagre da Vida, acredite”, escreveu Junoca.
E ele quer que, apesar das limitações físicas, as pessoas entendam que não é “coitadinho”.
“Eu sempre fui bem resolvido com a minha condição. Eu nunca liguei pra minha situação, porque eu nunca me vi assim e minha família nunca me tratou como coitadinho e nunca me escondeu da sociedade”, explicou.
“Eu acho importante [falar sobre isso] porque quase todas as pessoas têm preconceito. Eu queria ajudar a diminuir essa situação”, revelou.
O amor
Como qualquer pessoa, Junoca tinha o sonho de encontrar o amor da vida dele. E conseguiu.
Ele conheceu a pedagoga Allana Magalhães pelo Facebook. Ela é servidora pública, mãe solo e nasceu da Bahia.
Meses depois de muita conversa online, Junoca pediu Allana em namoro e ela aceitou.
“Fui conversar com ela no Bate-papo e ela ficou caidinha por mim… e eu fiquei caidinho por ela. Após um mês de conversa, eu a pedi em namoro e ela disse SIM!!! E no Dia 24 de Outubro do mesmo ano, nos Conhecemos Pessoalmente. O nosso namoro durou três anos”, lembrou Junoca.
Fugiram pra casar
Até que ele pediu Allana em casamento e ela aceitou. Mas os dois tiveram que fugir para se casar porque a família de Junoca duvidava que a relação iria dar certo e também questionava as intenções de Allana com um homem que tem 95% do corpo paralisado.
O primo de Junoca, Raphael de Almeida Silva, professor, de 38 anos contou ao SóNotíciaBoa que na época a família se perguntava:
“Quem é a Allana? Ela vai conseguir ser esposa dele, dar banho, cuidar? Ele não tem herança, não tem grana. É ele como ele é… e ela aceitou. Hoje a família aceita e a Allana é bem vinda”, disse Rafael.
Vida apertada
Allana, o filho João Gabriel, de 20 anos e Junoca moram em uma casa alugada em Itabuna, na Bahia, desde 2018.
Junoca não recebe benefícios do Estado, nem pensão dos pais, que já faleceram.
Allana perdeu o cargo de professora na prefeitura da cidade. Foi dado abandono de emprego.
“Quando chegamos da viagem, os professores estavam em greve e ela se apresentou fora do tempo previsto, contou Junoca”.
João Gabriel o único que tem emprego, recebe um salário mínimo e a família começou a fazer palha italiana para vender e aumentar a renda da casa durante a pandemia.
Mas se a vida é apertada, o amor e a alegria deles são gigantes. Parece relação de outras vidas.
Aliás, Allana lembra que aos 12 anos teve um pesadelo de que iria se casar com um cadeirante e correu para contar para a mãe dela, na época.
Hoje ela diz que não foi um pesadelo e sim uma mensagem recebida em sonho, que ela desempenha com todo o carinho.
E com todas as dificuldades, eles se apoiam, se ajudam, se divertem e se amam.
“Vão viver”
E sabe qual mensagem o Junoca deixou para os leitores, que como ele, acompanham o SóNotíciaBoa?
“Aproveitem a vida da melhor maneira possível. Vão viver!!! Vejam as possibilidades e não as faltas… É isso o que eu faço! Me reinvento todo dia”, afirmou.
Hoje, o Junoca e a Allana espalham amor, fé e esperança no Facebook, no Instagram e no Canal que têm no Youtube.
E nós ficamos honrados ao saber o que ele faz para renovar as esperanças: “O mundo está horrível com tanta notícia ruim. Não tem notícia que presta. O único lugar que eu conheço onde posso recarregar minhas esperanças acerca de notícias boas é no SoNotíciaBoa”, concluiu.
Gratidão
Junoca, hoje foi você quem renovou as nossas esperanças!
Obrigado pela entrevista, por compartilhar sua história, sua autoestima, sua esperança, o seu amor e por ajudar a gente a refletir um pouco sobre essa vida e tantas coisas banais que a gente valoriza sem perceber.
No vídeo abaixo ele mostra como joga videogame com os pés:
Por Rinaldo de Oliveira, da redação do SóNotíciaBoa