O incômodo de uma criança se transformou em motivação para mudar significativamente a vida de centenas de famílias, em Lençóis, na Bahia.
“Sou da Chapada e, na minha terra, rua é brincadeira, é liberdade. Na cidade grande tomei um susto: os meninos até brincavam, mas não tinham para onde voltar depois. As crianças tinham como suas casas a rua. Eu me perguntava ‘por que é que tinham que ficar ali?’ Depois fui crescendo e entendi o que acontecia, mas nunca aceitei”, conta Lilian Pacheco, fundadora e responsável do Projeto Grãos de Luz e Griô.
Griô é uma palavra de origem africana que significa “o sangue que circula”, acredita e dissemina o poder da tradição oral de resgate e manutenção de uma cultura. E o Projeto Grãos de Luz e Griô zela pelo fortalecimento da identidade, da ancestralidade e pela celebração da vida do povo brasileiro.
O projeto já existe há 20 anos e assegura o direito à educação, arte, cultura e o desenvolvimento sustentável em comunidades tradicionais, rurais e de periferia da Chapada Diamantina e do Brasil.
“Quando a Lilian conta do processo de união dela e do esposo com o Projeto Grãos de Luz, que já existia, mas sem o Griô – e realizava um trabalho de distribuir sopa em um cenário conturbado culturalmente, econômica e politicamente falando – ela deixa claro o tamanho do desafio que enfrentaram e como todo esse processo foi essencial para moldar os próximos passos do projeto. Isso é incrível, reforça o quanto evoluir é um caminho natural de quem se dispõe a ser agente de mudança de verdade”, disseram Iara e Eduardo, Caçadores de Bons Exemplos.
O início
Crescer sabendo da realidade das crianças que vivem nas ruas foi importante para definir o futuro profissional da Lilian. Apesar de saber que sua vocação era o trabalho social, foi aos 29 anos que ela decidiu se dedicar inteiramente a isso e ter, nesse formato de trabalho, o seu sustento.
Ali nos anos 2000 muita gente passava fome, muitos foram embora da região, que estava mudando seu centro econômico do diamante para o turismo e o caos estava alastrado.
Nesse contexto, surgiu a ideia de criar o projeto que usasse da pedagogia, oferecendo oficinas, treinando educadores e agregasse parceiros.
“Começamos a nos chamar de Pedagogia Griô. Era um jeito de integrar a cultura oral da comunidade, a ancestralidade da terra e a história do povo”, conta Lilian.
“É por tudo isso que trabalhamos. Já recebemos vários prêmios e nosso trabalho é reconhecido mundialmente, mas o que queremos mesmo é continuar contribuindo com projetos comunitários que integrem arte, cultura oral, educação, desenvolvimento sustentável e cidadania, combatendo a pobreza e a discriminação de gênero e raça”, concluiu Lilian.
Veja mais sobre o projeto no site, Facebook e Instagram.
Por Rinaldo de Oliveira, da redação do SóNotíciaBoa – com Caçadores de Bons Exemplos