O primeiro ônibus usado, adaptado para combate à Covid-19, está nas ruas de São Paulo fazendo um trabalho importante. Ele virou uma clínica móvel para ajudar mais de 4 mil pacientes por mês, que não podem ou não querem ir aos postos de saúde, por medo de contaminação, ou aglomeração.
A primeira unidade da plataforma O-SI foi idealizada por Andre Zanolla (foto abaixo), estudante da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP – daqueles jovens que pensam fora da casinha e dão orgulho pra gente!
O projeto foi feito em parceria com a Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e a clínica móvel está completando dois meses de trabalho.
Os profissionais que atuam no ônibus fazem vacinação, testagem de pacientes e atendimentos de baixa complexidade, como diagnóstico, medicação intravenosa e exame de sangue.
O O-SI é equipado por um sistema de câmaras de refrigeração médica de 2 a 8 graus (ºC) certificado para conservação de vacinas como CoronaVac e AstraZeneca/Oxford. Ele tem capacidade para armazenar até 6 mil doses simultaneamente.
O veículo tem estrutura para a testagem de pacientes para o coronavírus, como RT-PCR, testes rápidos de antígeno e testagem sorológica IgG e IgM.
Para melhorar a acessibilidade dos espaços, o projeto conta com a adaptação dos espaços, como com corrimãos, piso podo-tátil (marcações no chão para deficientes visuais) e linguagem visual objetiva e com contraste de cores. Isso permite que sejam atendidos pacientes como Pessoas com Deficiências (PCDs), idosos e pessoas com baixa visão.
Segurança
Para reduzir as chances de contágio, as unidades possuem um sistema de insuflamento de ar com filtragem que reduz de maneira eficiente odores, fumaça e carga microbiológica no ambiente. Isso faz com que sejam capazes de inativar 98% da carga viral de Sars-Cov-2 (coronavírus) presente no ar em pouco mais de três horas. Há também um sistema de recirculação de ar com filtragem que elimina até 99% dos vírus e 99,99% das bactérias.
Uma vez ao dia, entre turnos de atendimento, as unidades são sanitizadas com tecnologia que produz nanopartículas que aderem a superfícies. De acordo com os criadores do projeto, essa técnica previne o risco de contaminação cruzada entre pacientes e profissionais da saúde, tornando o ambiente biosseguro.
As paredes da clínica móvel possuem também um material que garante baixa porosidade, diminuindo o acúmulo de partículas sólidas e que facilita os processos de higienização da unidade. Além disso, as divisórias hospitalares possuem fibras com efeito antimicrobiano, que impede o crescimento de populações de bactérias e fungos na superfície.
Parceria
O O-SI foi Financiado por empresas e instituições de diversos segmentos, como escritório de arquitetura, indústrias químicas e farmacêuticas e do setor de saúde,
O ônibus tem atuado apenas com o setor privado, levando atendimentos de saúde a funcionários de empresas contratantes da região metropolitana de São Paulo.
O-SI teve consultoria médica prestada por docentes da Escola Paulista de Medicina da Unifesp. O responsável pela criação e revisão dos protocolos de segurança é o médico Sun Rei Lin, professor e coordenador do Pronto-Socorro de Cirurgia do Hospital São Paulo.
Como
A clínica móvel é feita a partir de adaptações na estrutura de ônibus que saíram de circulação do transporte público.
Na maioria das cidades, podem circular apenas veículos de até 10 anos. Conforme observado por Zanolla, boa parte da frota aposentada torna-se sucata devido à baixa demanda, sendo que muitos são destinados a desmanches.
“A ideia da plataforma é reaproveitar essa infraestrutura preexistente e torná-la um equipamento de saúde complementar de longa duração”, explica.
O custo de cada unidade equipada é em torno de R$ 200 mil, excluindo-se impostos e equipamentos hospitalares.
Prêmio
A plataforma O-SI recebeu o primeiro prêmio no A’Design Awards, categoria War on Virus , que buscava identificar as melhores iniciativas de combate à covid-19 em escala mundial.
Além disso, recebeu em 2020 menção honrosa no 58o. Prêmio Anual do IAB-RJ (Instituto de Arquitetos do Brasil) na categoria Reúso e Transformação de Estruturas.
Novas unidades
Outros dez veículos já estão em processo de adaptação para se tornarem uma clínica móvel.
Segundo Andre Zanolla, que está no quinto ano da FAU, a idéia é que o O-SI ofereça os serviços da plataforma também ao Sistema Único de Saúde (SUS).
Alguns municípios e Estados das regiões Norte e Sudeste, ainda mantidos em sigilo, mostraram interesse no projeto e estão em fase de negociações para que seja disponibilizado no sistema público.
Depois da Covid-19
Apesar de existir uma preocupação em especial com a covid-19, Andre vê o O-SI como um “projeto-legado”, ou seja, uma estrutura permanente de longo prazo.
Para os idealizadores, o projeto pode se tornar uma ferramenta para atendimento médico descentralizado capaz de reduzir as filas de espera para consultas e exames, principalmente para a população mais vulnerável.
“Além das vacinas para combate à covid-19, podemos armazenar, distribuir e aplicar outros diversos tipos de vacinas do calendário de imunização nacional”, concluiu.
Com informações do JornalDaUsp