Um arquiteto que nasceu numa pequena aldeia na África foi homenageado pela Universidade de Oxford após ganhar o Prêmio Pritzker, o “Prêmio Nobel de Arquitetura”.
Diébédo Francis Kéré é de Burkina Faso, é o primeiro homem preto a vencer o Prêmio Pritzker em 43 anos desde sua fundação, em 1979. Antes do prêmio, ele recebeu inúmeros elogios em sua área, além de reconhecimentos, como o Prêmio Aga Khan e a medalha Thomas Jefferson.
Onde ele viveu não havia escola. “Você consegue imaginar? Nasci em Burkina Faso, um país da África Ocidental, nesta pequena aldeia onde não havia escola. E meu pai queria que eu aprendesse a ler e escrever de maneira muito simples, porque assim poderia traduzir ou ler suas cartas”, disse Diébédo.
Mas nas reviravoltas da vida, ele conseguiu se formar em arquitetura e abriu seu próprio ateliê.
A virada
Aos vinte anos, em 1985, Diébédo ganhou uma bolsa para estudar carpintaria em Berlim. Nos anos 2000, conquistou o mestrado em Arquitetura.
Ele ainda era um estudante quando projetou e construiu a inovadora Escola Primária Gando.
O reconhecimento que ganhou ajudou Kéré a estabelecer sua própria prática em Berlim, na Alemanha.
Hoje trabalha na construção de um edifício do governo de Burkina Faso inspirado em uma árvore nativa.
O prédio será um símbolo da África Ocidental, sobre a tradição e a jovem democracia do seu país.
“Esse edifício será um lugar de comunhão para que as pessoas possam se reunir, tomar decisões e comemorar”, disse, com os olhos brilhando.
Arquitetura pioneira
Até de ser convidado para idealizar grandes construções, Diébédo se dedicava a assinar as plantas de escolas primárias e clínicas de saúde no país onde nasceu.
“Francis Kéré fornece uma arquitetura pioneira – sustentável para a terra e seus habitantes – em terras de extrema escassez”, disse o presidente do comitê, Tom Pritzker, em um comunicado.
“Ele é igualmente arquiteto e servidor público, aprimorando a vida e as experiências de inúmeros cidadãos em uma região do mundo às vezes esquecida. Através de edifícios que demonstram beleza, modéstia, ousadia e invenção, e pela integridade de sua arquitetura, Kéré defende graciosamente a missão deste Prêmio.”
Soluções para escolas quentes
Kéré conta que sua prática arquitetônica foi inspirada em sua própria experiência de frequentar a escola com cerca de 100 outras crianças em uma região onde as temperaturas excedem regularmente os 38 graus Celsius.
“Era sempre tudo muito quente dentro da escola. E não havia luz, enquanto lá fora, a luz do sol era abundante. Isso cresceu na minha cabeça com o passar dos anos e me motivou a pensar em soluções melhores, que tornassem a vida das pessoas mais fácil”.
Em seus projetos para a Escola Primária Gando e a Escola Secundária Naaba Belem Goumma em Burkina Faso, Kéré utilizou materiais de construção tradicionais, como argila local misturada com concreto.
Ele projetou cômodos com espaços bem ventilados que reduzem a necessidade de ar condicionado.
O arquiteto queria que os edifícios evocassem a sensação de um oásis. “Estou criando um pequeno paraíso para muitas, muitas crianças, para serem felizes e aprenderem a ler e escrever“, disse.
Parabenizado pelo juri
“Todo o corpo de trabalho de Francis Kéré nos mostra o poder da materialidade enraizada no lugar onde se vive. Seus edifícios, para e com as comunidades, são diretamente dessas comunidades – em sua fabricação, seus materiais, seus programas e seus personagens únicos”, disseram os jurados do Prêmio Pritzker.
“Ele sabe, por dentro, que a arquitetura não é sobre o objeto, mas o objetivo; não o produto, mas o processo”, concluíram.
Com informações do UpSocl