Pela primeira vez na historia, uma travesti foi eleita e assumiu o Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro. A psicóloga pernambucana Céu Cavalcanti, de 32 anos, é a prova viva de que travesti não é sinônimo de prostituição. E que se, se tiverem oportunidade, elas podem crescer e atuar em qualquer área.
Ela teve um agosto repleto de realizações. No início do mês, ela realizou o sonho de se tornar professora e, na última semana assumiu como presidente do Conselho Regional de Psicologia no Rio de Janeiro. A escolha de Céu foi um verdadeiro quebra de paradigma.
“Eu sei o quanto isso significa para todas as pessoas trans e travestis desse país. Gradualmente, estou dando conta da dimensão histórica disso. Mas tenho que dizer que o mais importante é a dimensão coletiva que toma forma nesse lugar. Acabo desde esse lugar emprestando rosto a sonhos, desejos e construções absolutamente coletivas”, comemorou Céu, eleita em chapa única.
Motivo para comemorar
Para Céu, a conquista da presidência de um conselho profissional no país precisa ser muito comemorada. A psicóloga defende que todos, independentemente de qual grupo social estejam, precisam de espaço e reconhecimento.
“As eleições para o conselho do Rio sempre foram muito concorridas. Em 2019, tínhamos o acréscimo da situação política do país. Mas um grande movimento de articulação entre diferentes grupos da psicologia conseguiu assegurar o espaço democrático e alinhado às perspectivas de direitos humanos”, disse.
Mandato humanizado
Céu é formada em psicologia pela UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e se mudou para o Rio em 2018 para fazer um doutorado na mesma área pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Desde 2019, ela já realiza atividades para o Conselho Regional do Rio de Janeiro. A psicóloga também é integrante da diretoria nacional da Associação Brasileira de Psicologia Social, do conselho consultivo da Associação Brasileira de Estudos da Trans-homocultura e da Articulação Nacional de Psicólogues Trans.
Céu conta que está muito animada com o novo cargo e, aos poucos, está entendendo a importância do feito.
Homem trans impedido de atuar
“É imenso me pensar presidindo o local onde décadas atrás João Nery precisou optar por ser quem ele era ou sua vida profissional”, diz Céu.
O psicólogo João Nery foi primeiro homem trans a realizar a cirurgia de redesignação sexual no Brasil, em 1977. Ele foi impedido de atuar na psicologia por ser um homem trans.
Agora, Céu quer fazer um mandato humanizado, porque considera a Psicologia uma profissão de bem-estar.
“É importante pensar na saúde como elemento intersetorial que se fortalece com a defesa e ampliação das diferentes políticas públicas. E a psicologia tem contribuído muito nesse campo”, afirma.
Durante os três anos de mandato, Céu pretende continuar lecionando, porque esse sempre foi o maior desejo e motivo de orgulho dela.
“É um desejo antigo poder estar nesse lugar de docente e, sem dúvidas, o fato de poder me saber professora fala também de um conjunto de alianças e mudanças culturais que passam a entender que alguém como eu pode ser par e professora em uma universidade. Essa é uma mudança significativa que a nossa geração de pessoas trans começa a viver”, finaliza.
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Novos caminhos
Eleger uma pessoa não cisgênero – ou seja, que não se identifica com o gênero designado ao nascer- para um cargo tão importante, mostra o quanto a sociedade traça novos caminhos.
Em 2019, ao revogar oficialmente a disforia de gênero, a OMS afirmou que era hora de reconhecer e diversidade humana e determinou que todos os países membros deveriam seguir a recomendação até janeiro deste ano.
O Brasil não esperou. Ainda em 2018, o Conselho Federal de Psicologia já havia publicado uma resolução na qual recomendava aos psicólogos que não tratassem travestilidades e transexualidades como patologias.
O texto aponta ainda a importância do combate à transfobia e afirmava que as identidades de gênero devem ser autodeclaratórias.
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Com informações de Queer