A Isadora Fernandes, de 28 anos, transformou a dificuldade e o preconceito que passou na vida em combustível para fazer o bem pelo próximo principalmente pelos mais inocentes e necessitados. Trans, com apenas 16 anos ela foi expulsa pelo pai e hoje cuida de crianças abandonadas em um educandário no Rio Branco, Acre.
Isadora conta que as dores do passado não desapareceram completamente porque está convencida de que “o amor cura tudo” e, por isso, ela faz questão de compartilhar esse sentimento com todos que passam pelos cuidados, atenção e carinho da jovem.
“Queria demonstrar o amor de uma outra forma. Mudar aquela imagem que as pessoas têm sobre trans e travestis. Mostrei o meu caráter, que não importava a minha sexualidade, e sim o meu trabalho”, contou Isadora.
Sem amparo
A jovem contou que vivia com os pais na cidade de Feijó, no interior do Acre. Quando tinha 16 anos contou para os pais sobre a identidade de gênero dela, mas a notícia não foi bem recebida em casa.
O pai da Isadora a expulsou de casa e ela foi morar com uma tia, em uma Aldeia Indígena. A jovem ficou por 8 meses na comunidade e virou professora no Projeto Alfa 100, que leva Educação para comunidades isoladas em Feijó.
Isadora disse que foi muito doloroso o processo de enfrentar um mudo repleto de preconceito.
“Quando cheguei em Rio Branco eu fui passando de casa em casa, morando com meu tio, depois com uma outra tia, onde eu trabalhava como doméstica, eu não tinha trabalho então precisava ajudar com alguma coisa”, disse.
Com a vida difícil na capital, ela teve uma depressão e precisou fazer acompanhamento psiquiátrico. Foi quando viu a vida começar a mudar.
O amor cura tudo
Foi por indicação da psiquiatra que Isadora achou o Educandário Santa Margarida. Lá, ela viu nas crianças um jeito de superar os obstáculos e a depressão.
“A minha psiquiatra me ajudou muito. Foi ela quem me avisou sobre uma oportunidade de emprego no Educandário, no início eu fui contratada apenas para tirar férias de outras funcionárias da cozinha.”
Em poucos meses, Isadora assumiu o posto de cuidadora das crianças e a dedicação e amor com o trabalho encantou a todos e a fez ser contratada de forma efetiva.
“As únicas pessoas que sabiam que eu era uma mulher trans era a Sheila [colega de trabalho] e o RH. Comecei a trabalhar com medo do que poderiam achar. Mas fui e deu tudo certo. Fui muito bem recebida, sempre tive ótimas recomendações”, lembrou a jovem.
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Retribuindo o bem
Com 5 meses de trabalho, Isadora recebeu tanto amor das crianças e dos companheiros de trabalho que quis devolver isso em forma de cuidado com os pequenos abandonados.
“Sempre procuro dar o amor e o carinho que elas precisam. Retribuir uma coisa que eu não tive na minha infância. Aqui tenho a oportunidade de dar o que não recebi”, disse.
No Educandário, Isadora disse que encontrou uma forma de mostrar como ela é de verdade.
“Queria demonstrar o amor de uma outra forma. Mudar aquela imagem que as pessoas têm sobre trans e travestis. Mostrei o meu caráter, que não importava a minha sexualidade, e sim o meu trabalho”.
Recomeço
A paixão pelas crianças faz com que Isadora passe dias seguidos sem ir pra casa, só para ficar mais perto delas. Inclusive, ela passou, por opção, o Natal no Educandário, junto com as crianças.
“Eu me sinto bem perto delas. Tô aqui pra conversar com elas, tirar traumas delas, dar atenção que elas precisam. Porque eu sei o que elas passam, pela experiência de vida que eu tenho”, disse.
Mas quem pensa que a jovem tem isso como um sacrifício, se engana. Para ela, as crianças são um recomeço, uma oportunidade para deixar passar todo o passado e focar no futuro, que certamente será cheio de lindas histórias para contar.
Perguntada sobre qual sonho ela quer realizar, Isadora diz que pretende fazer a faculdade de gastronomia, por se identificar com a área e ajudar ainda mais as crianças. “Creio que vou conseguir, basta ser positiva e colocar Deus à frente de tudo”.
Isadora tem 28 anos de idade. Ela é a prova de que o amor quebra todos os tabus e que basta uma oportunidade para mudar o mundo.
Com informações de Contilnet.