Que vitória! 35 alunos, filhos de faxineiras, garis, pedreiros e donas de casa se formaram com cotas étnico-raciais da tradicional Faculdade de Direito do Largo do São Francisco, da Universidade de São Paulo (USP).
Foi a primeira vez que uma turma de cotas, com a sensação inicial de não pertencimento à faculdade, alcançou a formatura. Uma mulher trans também faz parte do grupo: Victória Dandara Toth.
“A 191ª Turma da Faculdade de Direito da USP (Largo de São Francisco), a primeira de cotistas étnico-raciais da história de uma instituição com quase 200 anos de história, concluiu os seus estudos”, escreveu o Centro Acadêmico XI de Agosto, no Instagram.
A comemoração
Victória Dandara Toth fez a leitura de compromissos pelos alunos. Orador da Turma, Marcelo Beck, lembrou dos conselhos do ex-ministro e professor emérito da Casa Eros Grau, na aula magna de recepção aos alunos.
“O professor disse de maneira categórica que a São Francisco não se tratava de uma faculdade de Justiça, mas sim uma faculdade de Direito. Foi a primeira surpresa de muitos nós, calouros, esperançosos em mudarmos a sociedade que vivemos. Tivemos logo de assimilar que Direito e Justiça estão longe de ser sinônimos”, relatou.
“Vocês são o exemplo vivo de que podemos construir sociedade muito melhor e de que o Direito pode ser ferramenta decisiva desse processo”, disse o diretor da Faculdade de Direito, Celso Fernandes Campilongo.
Emocionado, o professor acrescentou que: “Foram anos bem-vividos e inesquecíveis”.
O professor Bueno de Godoy ressaltou o significado da vitória: “Parabéns pela conquista, que em dúvida os abaliza a tantas outras que virão, sempre pelo esforço, pelo comprometimento e pela dedicação – como até aqui demonstraram – mas ainda pela formação sólida, geral e plural que hora forma seu cabedal.”
Defesa dos vulneráveis
Dos mais de 315 formandos, 75 são cotistas, sendo destes 35 pela reserva de vagas para PPIs.
Paraninfa do período noturno, Mariângela Magalhães destacou que o bacharel de Direito traz em si a responsabilidade pela defesa dos vulneráveis, aos mais pobres, aos excluídos.
“Afinal de contas, como não acreditar no potencial dessa turma que simboliza a enorme revolução que se dá dentro da Faculdade, e extravasa para fora de seus muros? Como não acreditar na turma que, ciente das diferenças sociais existentes entre os colegas, não mediu esforços para que ninguém ficasse para trás?”, disse.
É a 191º turma, mas a primeira após a tradicional instituição de ensino permitir o ingresso de alunos por meio do sistema de cotas raciais e de escola pública.
Com a lei de cotas, a USP conseguiu quadruplicar o número de estudantes de graduação que se declaram pretos, pardos ou indígenas entre 2010 e 2019.
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Lei de Cotas
Sancionada em 2012, a Lei de Cotas determina a reserva de 50% das vagas de universidades e institutos federais de ensino superior a estudantes de escolas públicas.
A reserva garante vagas a alunos de baixa renda, além de pretos, pardos, indígenas e pessoas com deficiência.
A USP adota a reserva de vagas para alunos de escolas públicas e autodeclarados pretos, partos e indígenas nos cursos de graduação desde o vestibular de 2016.
Em 2018, o Conselho Universitário aprovou a reserva de vagas para estudantes oriundos de escolas públicas.
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Com informações da Faculdade de Direito da USP, e Centro Acadêmico XI de agosto