O sonho do balé profissional faz três garotinhas brasileiras percorrerem 130km todo dia para realizar estudar dança. Esta é a rotina de Alice do Nascimento, Sophia Castro e Eloá Macruz, todas com 8 anos.
Elas viajam quase 4 horas, entre ida e volta, no Rio de Janeiro, para assistir as aulas e os ensaios na Escola de Dança Maria Olenewa, do Theatro Municipal – um dos mais renomados do país.
Alice mora em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio. Até o Centro, são 130 quilômetros. Entre as três baldeações há almoço no chão do metrô, trocas de roupas no meio do caminho e penteados em pé. Com Sophia e Eloá, da mesma turma de balé, a rotina não é muito diferente.
O sonho das pequenas brasileiras
As três garotinhas se destacaram durante um projeto de dança oferecido pela Ternium, uma empresa siderúrgica que atua no bairro. A professora Tainá Romanelli percebeu um diferencial nas meninas e sugeriu que os pais fizessem a inscrição no Municipal.
As meninas levaram a sério a sugestão e enfrentaram o concurso para a escola do Theatro Municipal.
“Eu via um brilho diferente no olhar delas quando diziam que queriam ser bailarinas profissionais. O dia que saiu o resultado foi uma festa. É muito mais do que passar numa prova. É sobre acreditar nelas mesmas, ultrapassar os obstáculos”, disse a professora Tainá.
Viagem de trem e ônibus
As três pequenas bailarinas se acostumaram à rotina corrida e à rigidez da carreira que pretendem seguir no balé profissional.
Quando as portas do vagão do trem se abrem, elas correm para um dos cantos e sentam no chão.
Com agilidade, tiram o tênis, colocam a sapatilha, ainda sem ponta, e fazem com cuidado o laço na fita de cetim que amarram aos pequenos tornozelos.
A mãe de Alice tira da bolsa três marmitas, que distribui para cada uma das meninas. Entre uma colherada e outra, conversam e implicam, de brincadeira, uma com a outra.
Depois do almoço, as meninas otimizam o tempo de viagem se alongando.
As três cantam juntas a musiquinha que aprenderam na aula: “flex, ponta, en dehors” (em francês, “para fora”), e reproduzem os movimentos. As três têm a mesma referência: a bailarina carioca Ana Botafogo.
No Theatro Municipal
Já arrumadas, Alice, Sophia e Eloá saem correndo da estação do metrô em direção ao Theatro Municipal. No rol de entrada, formam a fila das bailarinas e logo são levadas para a sala de aula.
“As meninas de Santa Cruz” ficaram conhecidas assim na turma Preliminar I, da qual fazem parte há pouco mais de um mês.
“Estão aprendendo o básico, o que é ponta, a nomenclatura do balé, a disciplina de todo dia estar aqui, o que não é fácil para a criança. Muitas enfrentam uma rotina intensa, de almoçar no transporte, trocar de roupa no caminho. Mas o balé não é puro sofrimento, é puro prazer”, afirmou a professora Sabrina Germann.
Nesta primeira etapa, é a fase eliminatória, quando os professores avaliam questões ortopédicas e de flexibilidade.
“Neste momento a gente avalia condições físicas, como a possibilidade de aumentar amplitude, extensão, se o pé consegue esticar. Estando aptas, seguem na formação, que dura nove anos”, disse o diretor artístico do Balé do Theatro Municipal, Helio Bejani.
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Apoio incondicional
Em média, as meninas gastam R$ 700 só com transporte. Mãe solo, Abgail Macruz, de 29 anos, disse que conta com o apoio da rede familiar para realizar o sonho da filha.
“Consegui um emprego para poder manter a Eloá no balé”, disse. “Tenho ajuda da minha mãe e irmãos. Vale a pena pela alegria que eu vejo nela”, acrescentou Abgail, que é agente de educação especial.
Tanto esforço terá recompensa, a gente está torcendo!!!
Com informações do jornal Extra.