Pobre, preta e alfabetizada adulta, Pureza Lopes Loyola, de 80 anos, foi a única brasileira a homenageada com o prêmio “Heróis no Combate ao Tráfico de Pessoas” das mãos do secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken. A cerimônia foi em Washington, nos Estados Unidos, nesta quinta-feira (15).
Desde 2004, o prêmio é concedido a personalidades que se destacam no combate ao tráfico de pessoas, mas esta foi a vez de uma brasileira receber o reconhecimento.
Dona Pureza, maranhense, virou filme com a atriz Dira Paes, paraense, que conhece bem as dificuldades relatadas na trama. Ela ganhou notoriedade, após em ir busca do filho desaparecido e descobrir as péssimas condições a que trabalhadores eram submetidos em garimpos no Norte do Brasil.
Vida de cinema
Dona Pureza só aprendeu a ler aos 40 anos, mas é dona de uma inteligência e garra fora do comum. Em 2022, o diretor Renato Barbieri, decidiu transformar a história dessa mãe em filme.
‘Pureza’ foi inspirado na luta dela que, por três anos, desafiou empreiteiros no Norte, para resgatar o filho caçula da escravidão. O filme venceu mais de 30 prêmios nacionais e internacionais.
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Três décadas de luta
Neste ano, a luta de Dona Pureza faz 30 anos. Ela buscou, neste período, reunir provas sobre a situação envolvendo trabalhadores em situação análoga à escravidão na Amazônia.
Em 1995, Dona Pureza ganhou apoio do Grupo Especial de Fiscalização Móvel, que uniu auditores-fiscais do trabalho, policiais federais e procuradores do trabalho para viabilizar o cumprimento da lei e a observância de direitos trabalhistas em todo o território nacional.
Tudo começou, em 1993, quando Dona Pureza, sem notícias do filho caçula, Antônio Abel, partiu para a Amazônia. Ela só sabia que ele tinha ido para lá em busca da sorte no garimpo. Como ela mesma diz “seguiu o rastro”.
Dona Pureza decidiu viajou com a roupa do corpo, uma bolsa, a Bíblia e uma foto de Abel. Estava decidida, como afirmava, localizá-lo “vivo ou morto”.
Viu como os empregadores confiscavam documentos de identidade dos empregados e tornavam-nos totalmente dependentes dos encarregados para obter ferramentas de trabalho, víveres e produtos básicos.
Atualmente Abel vive em Bacabal, no Maranhão, com Dona Pureza e a família.