Um encontro repleto de emoção e propósito. Em passagem pela Europa com a turnê “Meu Coco”, Caetano Veloso fez uma pausa para ir até o Vaticano atender ao pedido de um fã muito especial: o Papa Francisco. Durante o encontro, o cantor brasileiro recebeu a bênção do pontífice e fez um pedido especial: orações para o Brasil.
O encontro rendeu ótimas conversas e cliques, que foram compartilhados pelo cantor nas redes sociais. “Obrigado ao Santo Padre pelo convite e pela generosidade com que nos recebeu”, escreveu Caetano, em uma publicação no Instagram, que rendeu muitos elogios dos seguidores.
Caetano também aproveitou a oportunidade para ler e entregar uma carta ao Papa, que ele se referiu como um “pedido de socorro”. No documento, um apelo por orações e mensagens de paz ao povo brasileiro. A carta também fez referência a Dona Canô, educou os filhos “com seus gestos de simplicidade, afeto e sabedoria”.
O encontro
O encontro entre Caetano Veloso e Papa Francisco aconteceu na manhã desta quinta-feira, 28. Ele estava acompanhado da esposa, Paula Lavigne.
O pontífice demonstrou muito afeto com o momento e, por diversas vezes, foi clicado sorrindo com o cantor brasileiro e a admiração foi notada por alguns seguidores.
“Muito lindo ele com carinha de fã para nosso Caetano Veloso”, destacou a cantora Vanessa Da Mata, nos comentários.
Em junho, Caetano Veloso foi convidado pelo Papa Francisco para a comemoração dos 50 anos do Museu de Arte Contemporânea do Vaticano, criado em 1973. O evento aconteceu na Capela Sistina, que fica no Palácio Apostólico, no dia 23 de junho, mas o cantor não compareceu por causa de uma gripe.
A carta
A carta entregue por Caetano Veloso traz um apelo por orações ao Brasil.
O cantor diz que a “chamada ‘guerra às drogas’ até hoje não reduziu o comércio ou o uso delas” e que, por outro lado, “o número de jovens, em sua maioria negros, mortos a bala não para de crescer”, e cita os homicídios de crianças, vítimas de fogo no Rio de Janeiro, e a onda de violência na Bahia (veja a íntegra abaixo).
“Tenho certeza de que sua mensagem de paz será ouvida no país que tem como padroeira Nossa Senhora Aparecida. Com profunda admiração, meu abraço fraterno e meu pedido de socorro”, conclui Caetano.
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Brasileiros comemoraram
Nas redes sociais, os comentários eram só de elogios para o momento. Muitos amigos e fãs de Caetano Veloso elogiaram o encontro e parabenizaram o artista brasileiro e o papa.
“Gente, eu achei a coisa mais chique do mundo esse encontro”, escreveu uma seguidora.
“Que encontro lindo, místico e poético de dois grandes nomes que espalham amor pelo mundo”, disse outro.
Veja a íntegra da carta de Caetano ao Papa
Vossa Santidade, Papa Francisco,
É com alegria especial que chego aqui, na Santa Sé, para este encontro. Sou da cidade de Santo Amaro da Purificação. E desde menino acompanhava encantado a minha mãe, Dona Canô, com seus gestos de simplicidade, afeto e sabedoria.
Ela lutava em defesa da despoluição do Rio Subaé e fazia campanhas pela restauração da igreja de Nossa Senhora da Purificação, da qual sempre foi ardorosa devota.
Em 2007, na festa do centenário dela, a família, amigos e a cidade de Santo Amaro promoveram durante o ano uma série de homenagens à dona Canô. E o que nela provocou maior emoção foi a Igreja da Purificação receber a imagem peregrina de Nossa Senhora Aparecida.
É com esses ensinamentos de paz que chego aqui, diante de Vossa Santidade.
Nesses 10 anos de pontificado do primeiro Papa da América Latina, jesuíta e de nome Francisco, tenho acompanhado suas posições denunciando injustiças, alertando para a situação dos migrantes e sendo o autor da primeira encíclica ambiental: Laudato si – Sobre o cuidado da casa comum. O texto é uma advertência necessária sobre as responsabilidades humanas nas alterações climáticas.
Santo Padre, onde moro, na cidade do Rio de Janeiro, a violência atingiu índices iguais aos das grandes guerras pelo mundo. E o pior: vitimando cada vez mais crianças. A lista de meninos e meninas mortos por armas de fogo na Região Metropolitana do Rio assombra. Só este ano, 10 crianças morreram dessa forma.
Recentemente, entrou nesta estatística a menina Eloah da Silva dos Santos, de 5 anos, atingida por um tiro quando estava em casa, no Morro do Dendê, comunidade da Ilha do Governador, Zona Norte do Rio.
As vítimas têm em comum o fato de terem tido uma morte repentina enquanto viviam seus cotidianos. Com idades entre 9 e 13 anos. A chamada “guerra às drogas” até hoje não reduziu o comércio ou o uso delas. Mas o número de jovens, em sua maioria negros, mortos a bala não para de crescer.
Esse destino trágico também vitimou: Juan Davi de Souza Faria, 11 anos; Rafaelly da Rocha Vieira, 10 anos; Maria Eduarda Carvalho Martins, 9 anos; Ester de Assis Oliveira, 9 anos; Jhenyfer Luz Silva de Souza, 12 anos; Lohan Samuel Nunes Dutra, 11 anos; Yan Gabriel Marques, 12 anos; Dijalma de Azevedo, 11 anos; Thiago Menezes Flausino, 13 anos.
A violência também tomou conta da Bahia, estado em que nasci há 81 anos. Estou assustado ao constatar que – apenas nestes primeiros 24 dias de setembro – já foram registradas pelo menos 46 mortes em confrontos policiais em todo o estado. A proporção é de quase duas mortes por dia neste mês. Essas mortes aconteceram principalmente em bairros periféricos de Salvador, como Alto das Pombas, Calabar, Valéria e Águas Claras.
Diante dessa situação de agravamento da violência no Brasil peço que Vossa Santidade volte o seu olhar e suas orações para o nosso país. Tenho certeza de que sua mensagem de paz será ouvida no país que tem como padroeira Nossa Senhora Aparecida.
Com profunda admiração, meu abraço fraterno e meu pedido de socorro.
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