Um estudo liderado por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) descobriu mais de 10 mil registros de comunidades indígenas antigas na Amazônia. A pesquisa foi publicada na revista científica Science.
Com uma combinação de tecnologia para monitoramento remoto com dados arqueológicos e modelagem estatística avançada, os pesquisadores apontaram locais onde as estruturas podem ser encontradas. Chamadas de “obras de terra”, essas estruturas antecedem a chegada dos europeus ao continente.
“A pesquisa traz inúmeras evidências da ocupação ancestral da floresta amazônica por povos originários, de suas formas de vida e da relação estabelecida por eles com a floresta. A proteção de seus territórios, línguas, culturas e heranças deve ser compreendida como milenar, como são, e não ligada a uma data, que é tão recente”, disse Luiz Aragão, um dos pesquisadores envolvidos no estudo.
Avanços científicos
Segundo Luiz, o avanço científico e tecnológico promovido pela pesquisa é imenso e envolve várias áreas de conhecimento.
“Na própria arqueologia, por meio de novas descobertas; nas ciências ambientes, demonstrando o nível de interferência humana na região, o que pode ter implicações para seu funcionalmente atual e como modelamos o futuro”, explicou o chefe da Divisão de Observação da Terra e Geoinformática do Inpe.
Antes, as obras eram encontradas por meio de imagens do Google Earth, mas as dificuldades eram grandes devido à extensão da floresta.
Agora, com os novos lugares mapeados será possível descobrir novos sítios arqueológicos com dimensões monumentais e preservados.
“A pesquisa traz inúmeras evidências da ocupação ancestral da floresta amazônica por povos originários, de suas formas de vida e da relação estabelecida por eles com a floresta. A proteção de seus territórios, línguas, culturas e heranças deve ser compreendida como milenar, como são, e não ligada a uma data, que é tão recente”,
Tecnologia
A tecnologia foi grande aliada no estudo. Luiz Aragão e Vinicius, utilizando um laser embarcado em avião, conhecido como LiDAR (Light Detection and Ranging), e uma tecnologia de mapeamento remoto.
Com o sensor, eles conseguiram reconstruir elementos da superfície em um modelo 3D com grandes níveis de detalhamento.
Os modelos 3D auxiliaram na remoção digital da vegetação e iniciaram uma investigação arqueológica do terreno da floresta
“Investigamos um total de 0,08% da Amazônia e encontramos 24 estruturas, jamais catalogadas, nos estados do Mato Grosso, Acre, Amapá, Amazonas e Pará”, disse Vinicius.
Os achados remontam a um período entre 1500 a 500 anos atrás.
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Sociedades pré-colombianas
Para Carolina Levis, pesquisadora da Universidade Federal de Santa Catarina, o estudo joga luz sobre um período da floresta.
“Tempos atrás, os ecólogos viam a Amazônia como a grande floresta intocada, mas agora, combinando outros tipos de vestígios pré-colombianos, podemos perceber como muitos locais que hoje sustentam uma densa floresta já foram submetidos a extensas obras de engenharia e ao cultivo e domesticação de plantas pelas sociedade pré-colombianas”, explicou Carolina.
Segundo a pesquisadora, as descobertas revelam ainda algo promissor. “Esses povos dominavam técnicas sofisticadas de manejo da terra e das plantas, em certos casos, ainda presentes nos conhecimentos e práticas dos povos atuais que podem inspirar novas formas de conviver com a floresta sem a necessidade de destruí-la”, disse.
Ao todo, 230 pesquisadores de mais de 156 instituições ,localizadas em 24 países, participaram da pesquisa.
Com informações de Governo Federal.