Defesa pessoal. Meninas da periferia da Grande Vitória, Espírito Santo, estão aprendendo jiu-jítsu e autodefesa para se defender de abusos e do machismo.
Segundo uma pesquisa do Datafolha, um terço das mulheres já diz ter sofrido violência ou agressão. A sensação de insegurança e impotência, limita o acesso de mulheres aos espaços públicos e privados desde pequenas.
Em Castelo Branco, região de Cariacica, meninas praticam luta na quadra do Centro de Referência da Juventude (CRJ). “[…] No meu ver, todas as meninas deveriam saber um pouco de defesa pessoal, porque um cara pode te parar na rua ou então alguém pode te puxar para um canto. Tudo deixa a gente exposto a qualquer coisa”, disse Thais Soares Ferreira, de 15 anos.
Menina empoderadas
A implementação das aulas começou depois de relatos internos.
“No território de Cariacica temos um alto índice de violência doméstica, principalmente com adolescentes e jovens mulheres que estão na nossa faixa de atendimento, que é de 15 a 29 anos”, disse Adriana Shepherd, coordenadora geral do CRJ.
Foi a partir disso que, em agosto de 2022, foi implementada a defesa pessoal para o público feminino.
Na turma, a adesão ainda era baixa, mas juntas, elas foram transformando em algo maior.
Ana Luiza dos Santos, de 15 anos, chegou no CRJ depois de ter deixado a copeira. “Dois meses depois que comecei o jiu-jítsu misto, me falaram que estava tendo só para meninas, só para a defesa pessoal”, contou Ana.
Autoconfiança e liberdade
Acreditando que poderia ajudar as colegas, Ana começou então a frequentar as aulas de defesa pessoal.
O aprendizado e a convivência com outras meninas, a fez aumentar a autoconfiança de sair na rua. Antes das aulas, ela não saia de casa depois das 19h.
“Era um horário que eu colocava para mim para estar em casa, porque senão eu já achava muito tarde. Foi bem necessário, para mim, aprender isso para tirar um pouco dos meus medos”, contou.
Quimono afasta abusadores
Thais também disse que a prática de jiu-jítsu foi fundamental para se descobrir mais forte.
“Os meninos pararam de gracinha para o meu lado. Quando o pessoal me vê de quimono na rua já não me olha mais daquele jeito, chamando atenção. Porque as meninas não podem andar nem mais ‘largadinhas’ que os caras ficam querendo, ficam olhando, ficam analisando na hora da saída (da escola). Já não acontece mais tanto comigo. Mudou bastante”, comentou.
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Convencimento da família
As duas também tiveram o trabalho de convencer a família que a prática poderia ser benéfica.
Na base do diálogo, as duas foram mostrando as vantagens de saber se defender e conquistando os familiares.
“Alguns perguntaram se eu estava querendo virar homem porque falavam que é uma parada muito agressiva. Mas eu falei que era uma forma de eu me defender, que nem sempre iam estar comigo ali para poder me ajudar”, disse Ana.
Não 100% convencida, a mãe foi pessoalmente inspecionar os treinos da menina e hoje acompanha a carreira da filha de perto.
Turma triplicou
Adriana diz que a prática só traz benefícios e que a turma que começou com cinco alunas, hoje já triplicou de tamanho.
“Elas entravam com medo, quando falamos de violência doméstica, elas recuavam da conversa. Hoje, elas estudam o peito, andam pela comunidade, convidam outras meninas. As falas estão mais politizadas no contexto de busca ajudar, pedir ajuda”, disse a coordenadora.
Assista ao vídeo do projeto abaixo:
Com informações de A Gazeta.