Que gesto lindo. Uma assistente social do interior de São Paulo “adota” uma travesti abandonada nas ruas pelos pais, contrários à sua orientação sexual. Hoje, com 40 anos, karen está descobrindo o que é o amor e já fala em estudar e seguir os passos da nova mãe.
Karen teve uma infância difícil. Natural de Santa Bárbara d’Oeste, São Paulo, aos 12 anos ela foi encaminhada pela antiga família para uma instituição onde deveria ‘aprender a ser homem’. Jogada na rua pelo pai depois de ser pega beijando um menino, Karen começou a batalhar pela vida sozinha.
Da prostituição, ela acabou caindo nas drogas. Só agora a vida sorriu para a Karen depois que ela conheceu Sônia Wolff, uma assistente social de um projeto para pessoas em vulnerabilidade. “Muitos são chamados, mas poucos são escolhidos. Muitos não aceitam, tive várias pessoas que passaram por aqui, mas preferem o mundo. Ela (Karen) escolheu e aceitou a escolha de viver uma vida”, disse Sônia.
Expulsa aos 12
O preconceito acompanhou toda a infância de Karen. Antes de ganhar uma nova mãe aos 40 anos, ela conheceu de perto o que a ignorância pode fazer.
Aos 12 anos, quando falou para o pai que queria ser travesti, como resposta recebeu um soco na boca. Depois, foi encaminhada para uma instituição.
“Me levaram para uma igreja que era tipo para recuperar usuário de drogas. Me pegaram beijando um menino e ligaram para minha família. Foi onde meu pai me jogou na rua, fiquei morando na rua, aí peguei carona e fui para capital”, explicou.
A partir daí, começou uma verdadeira luta pela própria identidade.
Prostituição e drogas
Aos 14 anos ela colocou seu primeiro silicone e passou a se prostituir.
“Mas nunca roubei ninguém”, faz questão de dizer Karen.
Nas ruas de São Paulo ela conheceu uma amiga de Campo Grande e foi assim, que há 20 anos, ela chegou na cidade.
“É a cidade que eu amo, onde as pessoas conversam comigo, é um máximo”.
Em Mato Grosso do Sul ela rodou bastante, e foi em condição de vulnerabilidade que ela conheceu Sonia Wolff, de 60 anos.
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Estender a mão
Sonia, é assistente social e trabalha na Ceaca (Associação Apoia a Criança), no bairro Guanandi.
“Eu abri esse outro lugar aqui na esquina para crianças de 6 a 15 anos. Foi onde ela passava e eu acolhi porque já estava no meu projeto”, comentou.
O projeto é o Associação Dignidade à Vida, que oferece cursos de corte e costura e apoio psicológico para pessoas em condição de rua.
Sônia lembra que Karen sempre passava no projeto. “Ela tomava banho lá, eu deixava a roupa separada e ela comia. Depois ia embora e aparecia toda detonada de novo. Nisso foram quatros anos”.
Já Karen, explica que com Sônia era diferente, ela se sentia humana.
“Eu ia tomar banho no projeto e ela segurava na minha mão e ficava assim: ‘Queria tanto que você viesse dormir aqui para não dormir na rua’. Eu falava que não queria, que gostava de dormir debaixo da árvore, mas teve um dia que cansei. É raro alguém falar para você mudar de vida e te estender a mão”, contou Karen.
Nova vida, nova mãe
E depois de quatro anos desenvolvendo uma relação de confiança, Karen passou mais uma vez na sede do projeto para ver a amiga.
Era dezembro de 2023. Na ocasião, ela recebeu um pedido da assistente. Sônia convidou Karen para a ceia de Natal na casa dela.
A travesti havia comprado drogas e planejava usar assim que saísse do local, porém mudou de ideia. Com o dinheiro do entorpecente, ela comprou doces e presentes para a assistente.
Depois disso, Sônia acolheu Karen e deu a ela uma nova vida.
“Eu falo que é um presente de Deus porque meu ninho estava vazio. Meus filhos todos casaram, perdi um na Covid e estava só eu e meu marido. Estou preenchendo meu ninho de novo, o filho do coração a gente não escolhe, Deus dá”, destacou.
Seguir os passos da nova mãe
Encantada pela profissão da nova mãe, Karen agora quer estudar e ajudar pessoas sendo assistente social. Assim como recebeu ajuda de Sônia, ela agora pretende estender a mão a outras pessoas.
A gente adora histórias com final feliz!
Com informações de Campo Grande News.