O primeiro indígena eleito para a Academia Brasileira de Letras, Ailton Krenak, tomou posse essa semana e fez um discurso lindíssimo exaltando a pluralidade indígena.
Ambientalista, filósofo e poeta, Ailton Krenak é natural de Itabirinha, região do Vale do Rio Doce em Minas Gerais. O brasileiro, que tem mais de 17 livros publicados, herda a Cadeira 5, que pertencia ao historiador José Murilo de Carvalho, morto em agosto de 2023.
De etnia Krenak, Ailton é o primeiro indígena a ocupar o posto em 127 anos de existência da ABL. Ele lembrou de outros povos indígenas do país em seu discurso. “Eu estou aqui: Sou guarani, sou xavante, sou caiapó, sou yanomami, sou terena”, disse ele no discurso de posse.
Primeiro indígena eleito
Krenak ficou conhecido em todo o Brasil em 1987. Durante a Assembleia Constituinte, ele protagonizou uma das cenas mais marcantes. Em discurso na tribuna, vestido com um terno branco, pintou o rosto com tinta preta para protestar contra o que considerava um retrocesso na luta pelos direitos indígenas.
Agora, quase 40 anos depois, o indígena se sentará ao lado da atriz Fernanda Montenegro e do cantor e compositor Gilberto Gil na ABL.
Na eleição para a Academia, em outubro de 2023, ele conseguiu 23 votos. Ailton derrotou a historiadora Mary Del Priore, com 12, e o indígena Daniel Munduruku, que obteve quatro.
Na solenidade, ele recebeu da atriz Fernanda Montenegro o colar de imortal, a espada das mãos do acadêmico Arnaldo Niskier e o diploma de Antonio Carlos Secchin.
A cerimônia foi na sede da instituição, no Rio de Janeiro, e contou com a presença da ministra da Cultura, Margareth Menezes, além de outras autoridades e acadêmicos.
Discurso histórico
O autor estava emocionado na celebração e fez questão de lembrar dos indígenas.
“Desde que me convidaram e me animaram para ocupar essa cadeira número cinco, eu me perguntava: ‘Será que nessa cadeira cabem 300?”, disse Ailton.
Então usou um poema de Mário de Andrade. “Como dizia Mário de Andrade, eu sou 300. Olha que pretensão. Eu não sou mais do que um, mas eu posso invocar mais do que 300. Olha que pretensão. Nesse caso, 305 povos, que nos últimos 30 anos passaram a ter a disposição de dizer: ‘Estou aqui”. ‘Sou guarani, sou xavante, sou caiapó, sou yanomami, sou terena”, finalizou.
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Quem é Ailton?
O ativista indígena foi morar com a família aos 17 anos no Paraná.
Lá, Ailton tornou-se jornalista e desde a década de 1980 se dedica à causa indígena.
O filósofo também participou da fundação da Aliança dos Povos da Floresta e da União das Nações Indígenas (UNI).
Entre os livros publicados estão A vida não é útil (2020), Futuro ancestral (2022) e Idéias para adiar o fim do mundo (2019).
Ele também conquistou o Prêmio Juca Pato de Intelectual do Ano, da União Brasileira dos Escritores (UBE), em 2020.
Com informações de Agência Gov.