Pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) querem saber quais são os segredos dos supercentenários brasileiros, pessoas que ultrapassam os 100 anos, de forma saudável. Quatro casos de idosos chamam a atenção – juntos eles somam 435 anos – todos lúcidos e com vitalidade física.
A irmã Inah Canabarro, de 116 anos, o doutor Milton, de 108, Seu José Bernardo, de 106, e dona Laura, de 105, têm histórias incríveis para contar e uma memória impressionante para detalhes.
“Como chegou a essa idade com uma cabeça tão boa? Queremos saber o que esses genes regulam no organismo desses idosos e como isso contribui para envelhecer sem doenças”, disse a pesquisadora Mayana Zatz, do Centro de Estudos do Genoma Humano e Células-Tronco, da USP, que está à frente da pesquisa, em artigo publicado na imprensa.
Histórias e memórias
O Só Notícia Boa vem acompanhando a pesquisa desde o anúncio, quando recrutou supercentenários para o estudo. Veja a história de alguns dos selecionados:
A freira teresiana Inah Canabarro, de 116 anos, é a mais idosa do grupo até aqui selecionado. A história dela já foi contada pelo SNB e impressiona a pesquisadora.
“Na Páscoa, contou-nos que adora chocolates, detesta bananas e que dirigia uma banda de música com a qual viajou por todos os países da América Latina. Com alguma dificuldade, ela consegue escrever e se preocupa com a grafia correta dos nomes. Perguntou se Mayana se escrevia com i ou com y. Como chegou a essa idade com uma cabeça tão boa?”, questionou Mayana Zatz.
O doutor Milton, de 108 anos, é veterinário aposentado em Brasília. Ama ciência e pesquisa, procurou a USP ao saber do estudo e se ofereceu para ser voluntário.
No ano passado, no aniversário de 107 anos, fez questão de pessoalmente preparar a lista de convidados e lembrar o papel de cada um na carreira dele.
“O que protege a sua capacidade cognitiva? Queremos saber mais sobre os seus neurônios”, disse a pesquisadora.
Supercentenários saudáveis
Dona Laura, de 105 anos, começou a nadar aos 70 anos, e tem a agilidade de uma jovem e excelente capacidade cognitiva.
“Em vez de perder força muscular com o tempo, como era esperado, ganhou musculatura. Por quê? O que há de diferente nos músculos e genes de Laura?”, perguntou a cientista.
Caso semelhante ocorre com Seu José Bernardo, de 106 anos, de Minas Gerais, que trabalha em um supermercado guardando carrinhos e cestas.
“Aparentemente, é a pessoa mais idosa com carteira registrada no Brasil. Um excelente funcionário, segundo o dono do estabelecimento. De onde vem tanta disposição?”, questionou a pesquisadora.
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Investigar o sangue e as famílias
Além de entrevistar os supercentenários, os pesquisadores vão investigar as famílias e suas histórias de vida.
A ideia é recolher amostras de sangue desses brasileiros com mais de 100 anos e fazer o sequenciamento do seu genoma.
Uma particularidade do estudo em andamento na USP, e que provavelmente o torna único no mundo, é a derivação de diversos tipos de linhagens celulares a partir das amostras biológicas de sangue.
A partir dessa análise deve ser realizada a reprogramação das células do sangue (eritroblastos) em células-tronco embrionárias e a partir daí transformá-las em células musculares, ósseas ou nervosas, entre outras, para estudar as suas especificidades.
As amostras de Milton, por exemplo, deram origem a um organoide celular (um minicérebro cultivado no laboratório) para aprofundar o estudo dos neurônios dele.
Outras equipes em colaboração conosco estudarão essas linhagens celulares para avaliar as suas mitocôndrias (uma espécie de usina de energia da célula) e a reparação do DNA.
A coleta começou antes da pandemia.
Por enquanto o grupo reúne 20 centenários, como Dona Laura e Seu Milton, incluindo três pessoas acima de 110 anos, segundo artigo da cientista Mayana Zatz publicado na Carta Capital.