Ser mãe é um sonho da Jéssica Borges e, agora mais do que nunca, está próximo de acontecer. A mulher é a primeira, na América Latina, a receber um útero transplantado de uma pessoa viva, no caso, a irmã que doou o órgão.
Até dezembro, Jéssica vai implantar os embriões. Nesse meio tempo, o corpo dela se prepara. Ela já menstrua, algo que nunca tinha ocorrido e, adapta-se às mudanças no organismo.
Tudo isso só foi possível porque Jaqueline, irmã de Jéssica, se dispôs a doar o útero. A cirurgia durou cerca de dez horas e foi no Hospital das Clínicas, em São Paulo. As irmãs e a equipe médica comemoram a vitória.
Início do sonho
Enquanto aguarda o momento da implantação dos embriões, Jéssica tenta conter a expectativa.
“Eu fiquei totalmente insegura, porque para mim é tudo novo. Eu nunca menstruei. Fiquei muito insegura, mas feliz. Porque é sinal de que está tudo certo, é sinal de que daqui a pouco eu vou poder colocar os meus embriões”, afirmou Jéssica.
Mãe de Jéssica e Jaqueline, Simone se disse emocionada com a união das filhas. “Eu acho que é uma história muito bonita e agradeço muito a Deus pelo carinho que uma tem pela outra.”
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Do diagnóstico ao transplante
Jéssica faz parte de uma em cada 4 mil mulheres. Ela tem uma alteração congênita chamada de Síndrome de Rokitansky. As mulheres com esse diagnóstico nascem com ovários, podem ovular, mas a função reprodutiva não se completa.
“As mulheres são normais sob o ponto de vista ginecológico e não apresentam útero, e essa é uma das indicações de transplante de útero”, disse Edmundo Baracat, ginecologista da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).
Segundo dados médicos, no mundo todo foram realizados mais de 100 transplantes de útero. “Nós já temos mais de 50 crianças nascidas”, disse Dani Ejzenberg, obstetra da FMUSP, em reportagem da TV Globo.
Família grande
Quando Jéssica descobriu o diagnóstico, tinha vergonha e não revelava a síndrome. Com o passar dos anos, procurou uma solução.
Adulta, Jessica se casou. A família é grande, ela tem três irmãos, cunhados e sobrinhos. “A minha família sempre foi grande. Eu quero alguém para chamar de mãe, para a gente brigar, quero poder ter esse amor”, afirmou.
Jaqueline, a irmã, é casada e tem dois filhos – de 6 e 4 anos. Segundo ela, sempre quis ajudar a irmã a realizar o sonho de ser mãe. “Eu sou muito família, né? Eu penso mais neles do que em mim. Então, eu pensei primeiro em realizar o sonho dela, ao invés de ser mãe, sabe?.”