Sabe quando você gosta da sua profissão mas acha que poderia fazer mais? Aconteceu com o médico sanitarista Eugênio Scanavino Netto. Ele diz que se “sentia muito frustrado no hospital, porque lá a gente faz doença, não faz saúde; no hospital você é um amortecedor social”.
Dessa inquietude dele nasceu um projeto incrível, chamado Saúde e Alegria, que há mais de 30 anos leva, de barco, atendimento médico e remédios a 30 mil famílias de pequenos agricultores que vivem ao longo de rios e estradas, muitas em situação de vulnerabilidade social. E como as pessoas são carentes de informações sanitárias básicas, o projeto também leva artistas circenses para ensinar higiene de forma lúdica.
“Só de colocarem em prática os cuidados de higiene, já vemos muito resultado: começou a diminuir diarreia, as comunidades que tratavam a água perceberam melhorias. Aos poucos, as próprias pessoas começaram a entender que elas mesmas podiam fazer alguma coisa. Se você não usa água tratada, pega diarreia. Se não usar o sanitário, contamina a água do rio e vai passar diarreia lá para a frente. Então, eles começaram a entender que tudo depende das atitudes individuais, familiares e coletivas”, contou o médico Eugênio Scanavino Netto aos Caçadores de Bons exemplos, que foram até lá acompanhar os trabalhos.
O projeto deu tão certo que está completando 33 anos de atividade e hoje tem uma equipe multidisciplinar que atende a milhares de moradores de comunidades ribeirinhas na zona rural dos municípios de Santarém, Belterra, Aveiro e Juruti, no oeste do estado do Pará e dentro da Amazônia Legal.
“A relação que ele faz entre saúde, assistencialismo, precariedade de estrutura e função médica no mundo, é algo capaz de explodir a cabeça ainda em 2020; pensa em 1987 quando tudo começou? É impressionante pensar que desde muito novo, ainda na residência, ele reconheceu que era possível e necessário fazer diferente”, contaram Iara e Eduardo.
A ideia
Em 1983 o médico sanitarista Eugênio Scannavino Netto assumiu o desafio de ser o único médico que atendia em mais de 800 cidades, no interior da Amazônia. E ali, nas suas andanças, descobriu um novo jeito de atender.
“Lá não tinha nenhuma doença gravíssima ou diferente, só problemas de falta de saneamento, coisas muito simples. Como não dava pra ficar explicando os cuidados com higiene para cada um, eu dividia todo mundo em grupos: quem estava com diarreia, pra lá; quem estava com gripe, pra cá. Aí eu dava uma palestra para cada grupo, depois atendia individualmente para fazer a triagem”, conta.
Ele e a arte-educadora Márcia Silveira Gama foram contratados pela Prefeitura de Santarém, no Pará, para levar assistência em saúde nas comunidades ribeirinhas.
Na época, eles decidiram usar metodologias participativas, educativas e de autogestão e incorporaram gincanas educativas, ações de prevenção, pesquisas, treinamento de voluntários locais – os “Patrulheiros da Saúde” .
Mas, dois anos depois houve a troca da gestão municipal e o trabalho foi interrompido. E, para continuar e ampliar as ações, foi criado o PSA, Projeto Saúde Sorriso, com supervisão da Fiocruz, apoio da Unicef e com recursos do BNDES (Finsocial) e participação da Universidade Federal do Pará (UFPA).
Remédios
Era nítido que, o que levava as pessoas a procurarem o médico era conseguir os remédios e esse foi um dos primeiros pontos trabalhados com a comunidade. Conseguir os remédios estava extremamente ligado à condição de que eles prestassem atenção naquilo que era falado nas palestras. Cada paciente respondia quase que uma prova oral antes de receber o medicamento.
Com o tempo, o processo educativo cresceu, vieram os monitores, o treinamento das comunidades, as medidas caseiras de saúde e o circo como um jeito de prender a atenção deles.
Resultados
O trabalho ainda segue firme e o Projeto Saúde e Alegria impacta milhares de pessoas na região e é inspiração para outras tantas iniciativas espalhadas pelo mundo.
Tudo fruto do sonho de um aluno que sonhava em fazer medicina usando botina pelo país.
“Eu acho que todo mundo tem um sonho dentro de si. Todo mundo tem um impulso de se importar com o próximo. E eu acho que todo mundo tem um potencial criativo e transformador enorme. É só acreditar nisso, é só você acreditar em você mesmo. E começar a transformar.”, encerra.
“Fazer saúde, não fazer doença!” Essa é a frase que motivou Eugênio Scanavino Netto a encontrar o seu propósito de vida dentro da medicina.
“Procurei trabalhar sempre a ideia de que a saúde é um desafio coletivo: depende muito da atitude de todo mundo.”, explica Eugênio.
Conheça mais sobre o projeto Saúde e Alegria no site, Facebook e Instagram
Por Rinaldo de Oliveira, da redação do SóNotíciaBoa – com Caçadores de Bons Exemplos