A educação sempre será um caminho de transformação e o PRECE, projeto desenvolvido em comunidades cearences, é a prova disso. Uma ideia que nasceu em uma casa abandonada.
Criado por uma família humilde, vinda de Pentecoste, no interior cearense, Manoel Andrade Neto teve acesso à educação porque seus avós foram para Salvador, fugindo da seca e com o apoio deles, o garoto teve uma oportunidade que seus pais não tiveram: a de estudar.
Quando ficou adolescente, ele e amigos criaram um grupo de estudos que ia até uma casa abandonada e as reuniões se transformaram em uma espécie de cursinho preparatório para vestibular.
Mais do que entrar na faculdade, eles inspiraram outros jovens que fazem parte do PRECE, que hoje conta com 13 núcleos, chamados Escolas Populares Cooperativas, em quatro municípios: Pentecoste, Apuiarés, Paramoti e Umirim.
Dos 2 mil estudantes que passaram pelo PRECE, mais de 500 já ingressaram no ensino superior e os números não param de crescer.
“A história de Manuel é uma daquelas que nos fazem ter certeza de que toda e qualquer oportunidade, por menor que seja, tem o poder de inspirar e ensinar lições grandiosas. O Programa de Educação em Células Cooperativas (PRECE), é um exemplo grandioso disso”, afirmam Iara e Eduardo, Caçadores de Bons Exemplos.
A história
“Quando eu tinha mais ou menos uns 16 anos, conheci um jovem, aqui também da região, que me convidou para participar de um grupo de estudos. Ele me perguntou o que eu gostava de estudar e eu disse que era biologia. E sabendo disso, me deixou responsável pela biologia do nosso grupo. O que foi interessante, porque ele era um cara que articulava muita gente e montava vários grupos, aí chamei uns colegas de onde eu estudava também para participar. Fiz muitos amigos ali e descobri que o vestibular existia”, conta Manuel.
Com as conexões que os grupos de estudo lhe trouxeram, ele se juntou com um amigo bastante estudioso e começaram a usar o espaço de uma casa abandonada e passaram a estudar lá.
Foram dois anos de dedicação que garantiram a ele bons resultados no vestibular.
“Nunca deixei de ir para o Cipó, a minha comunidade em Pentecoste, pequena, rural, com umas dez famílias. Quando eu terminei a faculdade, fui trabalhar no Rio, passei quase dois anos lá, mas voltei e me envolvi mais fortemente com a comunidade. Lá conheci uma moça, me casei. Chegamos a tentar organizar jogos de futebol para meninos, mas percebi que não conseguia evoluir muito, porque dependia muito dos políticos locais. Até que me lembrei de como foi o meu processo: os grupos!”, lembra Manuel.
Começava ali o movimento de convidar a comunidade para estudar.
O discurso sobre a faculdade – e as oportunidades que a educação podia trazer – instigava as crianças e despertava nelas a vontade de conhecer.
“Muitos nem sabiam nem o que era universidade naquela época, mas acreditaram por causa da minha história, porque eu era de lá e, aos olhos deles, tinha vencido na vida”, completa.
A iniciativa começou a ter vários adeptos e precisava de um lugar para acontecer.
Foi quando encontraram uma casa de farinha abandonada, onde os meninos começaram a se juntar para estudar, agora sob a orientação do casal.
Com o tempo, passaram a morar ali. Muitos eram jovens adultos que, depois de mais velhos, se dedicavam a cursar o supletivo para concluir o ensino fundamental e o médio.
“Nosso trabalho era mais do que só falar. Nós levamos eles para Fortaleza para mostrar a universidade, os equipamentos culturais, para não deixar que desanimassem. E assim eles foram crescendo, se desenvolvendo. Terminaram sua etapa da vida escolar. Começamos com sete alunos. Todos entraram na universidade e depois retornaram para ajudar suas comunidades”, conta orgulhoso Manuel.
Além de fomentar a educação na vida de cada um e das suas famílias, eles tiveram a chance de conhecer e escolher trilhar por caminhos diferentes.
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Por Rinaldo de Oliveira, da redação do SóNotíciaBoa – com Caçadores de Bons Exemplos