O Mato Grosso do Sul tem sua primeira médica indígena generalista – especialista em Clínica Geral e Saúde da Família. A doutora Dara Ramires Lemes, filha de um kaiowá, se formou em medicina aos 25 anos, em dezembro UFSM e voltou para comunidade para atender pacientes indígenas falando na língua deles, o guarani.
Ela nasceu em Caarapó, no Mato Grosso do Sul e tem orgulho de suas raízes. Dara teve uma infância feliz na aldeia indígena Te’yikue – a 15 quilômetros do centro do município de Caarapó. E vive na mesma comunidade até hoje com a família, para preservar os laços culturais.
Ela atende em guarani no posto de saúde onde trabalha. “Percebo que as pessoas se sentem mais à vontade falando a língua nativa. Todos eles, assim como eu, também falam português, porém é um conforto saber que estamos dialogando na mesma identidade cultural”, afirmou ao Campo Grande News.
Dara acredita no poder da representatividade.
“Eu acredito que muito em breve teremos mais e mais profissionais assim como eu no sistema de saúde. Já existem universitários cursando enfermagem, odontologia e áreas afins que também são filhos de diferentes etnias. Com certeza, assim como eu, também irão se somar no futuro dos povos indígenas”, disse.
Ela acompanhou de perto a covid-19 se alastrar nas comunidades indígenas.
Apoio dos pais
Dara começou a estudar e trabalhar quando tinha cinco anos.
“Ajudava na vendinha dos meus pais desde meus 5 anos. Não sei como, mas eles confiavam em mim. E, mesmo com essa idade, eu sabia atender direitinho e dar o troco correto ao cliente”, lembra.
E os pais incentivaram a filha a estudar: “Eles alertavam que o caminho do estudo precisava vir antes de tudo”.
Na adolescência, a jovem médica foi jogadora de futebol de campo e futsal.
“Meu pai Dario não só foi um jogador de futebol nato, mas passou o gostinho pelo esporte para mim e meu irmão, ele que até hoje é atleta e atualmente mora em Portugal”.
Medicina
Mas a medicina falou mais alto porque era o sonho de Dara.
“Concluí o ensino médio, prestei vestibular e vi que precisava de muito mais para conseguir ser aprovada no meu sonho. Mas fui adiante. Entrei em um cursinho, estudava diariamente e finalmente consegui passar”, contou.
Dara lembra que teve dificuldades por ser uma jovem indígena: “Parecia que eu não poderia sonhar tão alto, mas descobri que sim”.
Hoje, formada, ela agradece: “O sentimento que fica agora é o da gratidão. Grata por Deus ter me abençoado com pais maravilhosos, proporcionar na minha formação de médica em uma universidade federal e por jamais esquecer de quem realmente sou, de cultivar minhas raízes”, concluiu.
Nem precisa dizer que a nova médica é o orgulho da comunidade!
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Por Rinaldo de Oliveira, da redação do Só Notícia Boa – com informações do Campo Grande News