Sabe quando você sente que a sua profissão é uma missão? Acontece com a professora Noadias Novaes. Ela pedala horas em estradas de terra para dar aulas a crianças e adolescentes com deficiência em Cruxati, no sertão do Ceará.
@noadiasnovaes tem 38 anos e explica que faz esse esforço desde março de 2020 para que as crianças não regridam: “Quando começou a pandemia, fiquei pensando: como vou prosseguir meu trabalho? Esses alunos precisam de continuidade. Se eu parasse, eles poderiam regredir na fala, na questão motora, na cognição. Como a maioria não tinha internet, decidi ir de porta em porta”, disse.
E olha que ela pedala, viu! “Até o município do Cura, por exemplo, que é mais distante, eu ando 40 minutos de bicicleta. Aí, ensino 5 crianças em uma casa. Quando termino lá, prossigo em uma estrada bem longa, até a casinha do Carlos Eduardo, que tem síndrome de Down. Ele me espera junto com outras 11 crianças [sem deficiência]. Tem gente da creche, da alfabetização e do ensino fundamental”, diz.
Aulas na rua, debaixo de sol
Para manter o distanciamento social, Noadias faz de tudo. Ela chega a ficar agachada na rua, debaixo de sol, enquanto a criança fica dentro de casa e assiste a aula pela porta.
Em outros casos, as famílias colocam mesas num terreno e a professora fica do outro lado da cerca, afastados, os alunos fazem as atividades pedagógicas.
Noadias também canta e toca para divertir e aproximar os alunos.
Educação delivery
A professora conta que, a princípio, daria aula apenas para complementar o que é ensinado na sala de aula comum para os alunos da rede municipal que recebiam o atendimento educacional especializado (AEE) — modalidade oferecida a pessoas com deficiência no contraturno escolar. Mas a iniciativa de “educação delivery” começou a se popularizar na região e outros alunos foram surgindo.
“Eu ia atender só o Evair [de 15 anos, que tem deficiência intelectual]. Quando chego, vejo que os irmãos dele também querem estudar. Os pais arrumam todo mundo, me esperam e perguntam: ‘Você não pode ensinar mais esses daqui?’ […] E eu vou dizer que não? Não tem como.”
Só na casa deste aluno, Noadias passou a ter uma turma de 6 crianças. Além dos familiares dele, os vizinhos quando percebem que ela está chegando, já correm para participar da aula também.
Sem internet
Atualmente, já são 26 estudantes “extras”: “Eu me sinto como se fosse numa sala de aula, fazendo inclusão. Monto currículos que possam ser adaptados para todos os alunos, com e sem deficiência”, explicou.
Na região, é raro que alguém tenha acesso à internet — os alunos estão desde 2020 sem qualquer tipo de ensino remoto. Por isso, Noadias “os adotou”, como ela mesma diz.
Veja uma das estradas onde ela pedala para chegar até os alunos:
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Ela dando aula na rua, debaixo de sol:
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Com informações do Juazeiro do Norte e SNB