A cantora Beyoncé usou as redes sociais de organização BeyGOOD – criada para apoiar causas sociais – para homenagear a brasileira Elza Soares, que morreu de causas naturais nesta quinta-feira, 20, no Rio de Janeiro.
Beyoncé escreveu no Instagram: “Descanse em paz Elza Soares. Sua música tem entretido e inspirado muitos do Brasil e do mundo. Nós somos gratos”.
Fã de Elza há tempos, Beyoncé já tinha usado as redes sociais para falar de Elza. Em junho do ano passado, no mês da música negra, a BeyGOOD comemorou a data com a nossa cantora: “Celebrando o brilho e a criatividade dos músicos negros que influenciaram o mundo através de sua arte.”
Na época, feliz com a homenagem de Beyoncé, Elza brincou dizendo que a cantora americana, quem sabe, poderia ser sua filha: “E ainda sobre a Beyoncé: um dia descobriremos que ela é brasileira. E minha filha.”
Aqui no Brasil, Elza também foi reverenciada nas redes sociais por artistas como Taís Araújo: “Eu Honro Elza Soares”, Vanessa da Mata, que a chamou de transformadora, e Iza: “Elza é e sempre será infinita”.
Elza Soares morreu em casa
Elza Soares morreu em casa, aos 91 anos. A família deixou uma mensagem nas redes da cantora comunicando o seu falecimento:
“É com muita tristeza e pesar que informamos o falecimento da cantora e compositora Elza Soares, aos 91 anos, às 15 horas e 45 minutos em sua casa, no Rio de Janeiro, por causas naturais.
Feita a vontade de Elza Soares, ela cantou “até o fim”.
Voz do Milênio
Ao longo da carreira, Elza Soares também foi reverenciada por Louis Armstrong, The New York Times e pela BBC.
A voz potente e rouca de Elza Soares se calou nesta quinta, 20 de janeiro de 2022, no mesmo dia em que há 40 anos morria Garrincha, ex-marido dela e jogador da Seleção Brasileira de Futebol.
“A voz do milênio”, “A mulher do fim do mundo”, “Deus é Mulher”…
Ícone brasileiro, Elza marcou gerações com sua versatilidade. Cantava de tudo, samba, MPB, bossa nova, jazz…
E não faltaram elogios nessa carreira coroada. Elza foi elogiada pelo célebre Louis Armstrong pelos tons graves da voz.
Elza Soares: “A melhor cantora do milênio”, disse a rádio BBC de Londres em 2000.
A brasileira ganhou o “Grammy Latino”, em 2016, na categoria Melhor Álbum de Música Popular.
“Me deixe cantar. Eu vou cantar”
Elza Soares realmente cantou até o fim. Nem os problemas da idade, como os que a impediram de se apresentar como de costume – percorrendo o palco com seu molejo -, conseguiram frear o ímpeto da “A Mulher do Fim do Mundo””
O disco, aliás, foi um dos grandes responsáveis por renovar a carreira de Elza. Gravado em São Paulo, o álbum se caracterizou pela sonoridade conhecida como Vanguarda Paulista, eternizada em grupos da década de 1980 e por nomes como Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção.
“A Mulher do Fim do Mundo” chegou às lojas em 2015 e contou com participação ativa do guitarrista Kiko Dinucci, conhecido também pelo trabalho com Juçara Marçal e por ser um dos membros do MetáMetá.
Ela botou o pé na estrada e fez uma turnê inesquecível para divulgar o trabalho. O 32º disco de estúdio de sua carreira fez tanto sucesso, que ganhou o “Grammy Latino”, em 2016, na categoria Melhor Álbum de Música Popular.
O álbum tinha samba, rap e música eletrônica e debateu temas importantes, como racismo, diversidade, transexualidade e se tornou um ícone no enfrentamento ao conservadorismo. O sucesso foi tanto que Elza Soares não parou e ainda lançou títulos como “Deus É Mulher”, com canções como “Exu nas Escolas”.
O último disco de inéditas Elza Soares foi “Planeta Fome”, título de uma frase histórica dita por ela no programa de Ary Barroso nos anos 1950.
Bastidores com violência, tristezas e resiliência
Elza nasceu nos anos 1930 e foi criada na Favela de Moça Bonita, hoje chamada de Vila Vintém, no Rio de Janeiro.
Ela foi obrigada pelo pai a se casar menina, aos 12 anos, com um homem 10 anos mais velho: Alaúrdes Soares.
Aos 13 anos foi mãe pela primeira vez. Teve outros 4 filhos com o marido. 2 deles morreram de fome de tão pobre que era a família.
Elza ficou viúva aos 21 anos e foi trabalhar numa fábrica de sabão. Na mesma época, em 1953, fez teste na Rádio Tupi no programa “Calouros em Desfile”.
Em 1960 ficou mal vista e foi perseguida pelos militares por ter gravado o jingle da campanha do ex-presidente João Goulart.
Além disso foi vítima de violência doméstica no casamento.
Mas tudo isso a tornou mais forte. Uma voz para defender as minorias e servir de resistência num mundo cada dia mais estranho.
Nós deixamos aqui nossa homenagem a essa guerreira brasileira.
Viva ela! Viva Elza! E a herança que ela deixou para a cultura brasileira.
Obrigado pelos ensinamos, pelo talento e pela resiliência.
Você será eterna!
View this post on Instagram
View this post on Instagram