Pela primeira vez, uma escola brasileira vai formar fotógrafos cegos! As aulas já começaram e terão duração de oito meses.
A primeira turma conta com 12 alunos e um professor de peso: João Maia, o maior nome da fotografia feita por pessoas com deficiência visual no Brasil e duas vezes fotógrafo oficial dos Jogos Paralímpicos.
“A gente aposta nessa transmissão de uma poética visual para essas pessoas que nunca enxergaram imagens”, disse Rejane Arruda, idealizadora do projeto, presidente da Associação Sociedade Cultura e Arte (SOCA Brasil) e diretora do coletivo e da Escola de Fotógrafos Cegos (EFC).
Inclusão em todos os sentidos
Para montar o curso, a escola considerou inúmeras questões, que envolvem principalmente o aguçamento de sentidos.
“Serão feitas muitas descrições, procedimentos práticos, nos quais elementos como o toque, a vivência no espaço, metáforas, serão usados para transmitir essa poética aos alunos, até o ponto de, ao fim dos oito meses, eles se tornarem autônomos e conseguirem construir os próprios dispositivos para a experiência fotográfica”, esclareceu Rejane.
A maioria dos alunos faz parte de outras turmas de canto e teatro do projeto Cena Diversa, do coletivo Companhia Poéticas da Cena Contemporânea, que trabalha com cinema, teatro, fotografia e vídeo.
Ajuda financeira
Os 12 alunos receberão, durante o curso, bolsa no valor de R$ 360 por mês, concedida pela ES Gás.
Os futuros fotógrafos farão uma itinerância por espaços urbanos onde moram, que frequentam, onde circulam, para trabalhar com a cidade.
“A cidade vai ser clicada no cotidiano dos alunos”, informou Rejane.
A curadora Bárbara Bragato selecionará 32 fotografias de toda a produção feita ao longo do curso, para estampar estruturas cúbicas que serão espalhadas pelo Parque do Moscoso, em Vitória.
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Escrita fotográfica
Rejane ressalta que o curso vai ajudar a formar pessoas que consigam ter autonomia de fotografar profissionalmente, mesmo que com a limitação visual que têm.
Ela comentou que as 12 pessoas selecionadas nunca haviam pensado antes em fazer fotografia e, muito menos, em se transformar em fotógrafos.
“A ideia é formar 12 fotógrafos cegos. É que eles percebam o que opera uma poética da imagem, por meio da escrita fotográfica, e os próprios dispositivos para que, ao fim do curso, tenham autonomia”, explicou.
“Aos poucos, vão percebendo que cada um pode ter um estilo, como autor de uma obra. A meta é a imagem como obra. Não uma fotografia instrumental, mas fotografia arte. A gente aposta que eles são bons contribuintes, bons artistas, exatamente por não enxergarem. Essa é a hipótese do projeto. Porque não enxergam, eles fotografam melhor do que a gente. Eles têm uma imprevisibilidade no olhar. Isso gera bons produtos, boas estéticas”, disse a presidente da SOCA Brasil.
Na avaliação de João Maia, a fotografia nada mais é do que emoção. “É memória, é algo que te traz sentimentos. É usar os outros sentidos que estão tão aguçados, como audição, tato, olfato, paladar. A fotografia é isso”, afirmou.
João Maia é considerado referência na lista de fotógrafos cegos, onde estão também, entre outros nomes, o esloveno naturalizado francês Evgen Bavcar, professor de Estética na Universidade de Sorbonne e que já expôs em vários museus pelo mundo; e o americano Pete Eckert, que fez trabalhos para a Volkswagen e a Playboy, além do autoral que o fez reconhecido internacionalmente com as suas light paintings (fisiogramas ou pinturas de luz).
A exposição
Com o título “Quando fecho os olhos vejo mais perto”, a exposição ficará aberta ao público durante um ano, a partir de junho de 2023.
A inciativa é do Instituto Luiz Braille do Espírito Santo, em Vitória (ES), com patrocínio da ES Gás, por meio da Lei de Incentivo à Cultura Capixaba.
Com informações de Agência Brasil