Esperança para pessoas com paralisia. Pesquisadores do Instituto Federal de Tecnologia da Suíça, em Lausanne, estão usando uma terapia inovadora que conseguiu reverter o problema em nove pacientes de diferentes idades. Ou seja, eles conseguiram andar novamente.
São pessoas com paralisia grave ou completa, causada por danos na medula espinhal. O estudo foi publicado na revista científica Nature e a conquista está sendo muito comemorada por profissionais de saúde em todo o mundo. Eles dizem que o passo foi mais que importante para o futuro de milhões de pessoas que perderam os movimentos.
A terapia funciona através de estimulação elétrica em um grupo específico de neurônios. Segundo os cientistas, a identificação dessas estruturas é um grande passo no tratamento de reabilitação dos movimentos.
Todos foram capazes de andar novamente
Todos os nove pacientes que participaram do estudo passaram por um acompanhamento de vários meses, para que os cientistas entendessem a estimulação elétrica epidural (EES) agiria sobre a paralisia.
Foram seis pessoas com lesão grave — quando algumas conexões neuronais ainda estão preservadas, apesar da ausência de movimento — e em três com paralisia total.
Durante cinco meses, os pacientes fizeram o tratamento, baseado em um novo eletrodo desenvolvido pela equipe. Enquanto recebiam a estimulação, todos foram capazes de andar com auxílio de um suporte robótico.
Fibras nervosas se reorganizando
Para os cientistas, a maior conquista do estudo foi que mesmo depois do processo de neurorreabilitação e já com a estimulação desligada, todos os pacientes, em maior ou menor grau, continuavam fazendo progresso na função motora.
Esse progresso motor indicou que as fibras nervosas que os músculos utilizam para a marcha haviam se reorganizado.
Foi a partir deste ponto que os pesquisadores, procuraram saber como isso aconteceu, o que é um fator crucial para o desenvolvimento de tratamentos mais eficientes para pessoas com lesão na medula espinhal.
A pesquisa
A pesquisa foi baseada em um grupo de neurônios, que são um subconjunto de células conhecidas com V2a, presentes no tronco cerebral e na medula espinhal.
Já se sabia que estas células estão envolvidas em vários aspectos da locomoção e da movimentação de membros em pessoas sem lesões na região. Porém, o papel-chave do grupo na recuperação da marcha era desconhecido até agora.
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Os caminhos para a descoberta inovadora
A partir dos primeiros resultados, a equipe passou para testes mais profundos e utilizou camundongos com as mesmas lesões na coluna que os pacientes.
Eles estimularam eletricamente, a medula espinhal dos animais para analisar os resultados. Com uma técnica chamada optogenética, os cientistas puderam ativar e desligar células específicas durante o processo.
Com isso, a equipe descobriu um subgrupo de neurônios que, em ratos saudáveis, não são necessários para a locomoção mas que, nos lesionados, foram cruciais para a recuperação da função motora.
“Estabelecemos a primeira ‘cartografia molecular’ 3D da medula espinhal”, definiu, em um comunicado, o neurocientista Grégoire Courtine.
De acordo com ele, esta foi a primeira vez em que pesquisadores conseguiram visualizar a atividade da medula espinhal durante a locomoção.
“Nosso modelo nos permite observar o processo de recuperação com um grau de detalhamento aprimorado, no nível do neurônio.”
Assim, a equipe percebeu que, depois de ativadas eletricamente, as células SCVsx2::Hoxa10 se reorganizaram, permitindo a mobilidade apesar da lesão medular.
Desenvolvimento de terapias
O acompanhamento dos pacientes aconteceu no laboratório Neurorestore do Instituto Federal de Tecnologia da Suíça. O grupo foi coordenado por Grégoire Courtine e Jocelyne Block.
Agora, mais estudos serão necessários até desenvolver uma terapia completa e destiná-la aos pacientes que precisam.
“É essencial que os neurocientistas sejam capazes de entender o papel específico que cada subpopulação neuronal desempenha em uma atividade complexa como caminhar”, disse, em nota, Jocelyne Bloch, neurocirurgiã do Hospital Universitário de Lausanne e coautora do artigo.
“Nosso novo estudo, no qual nove pacientes conseguiram recuperar algum grau de função motora graças aos implantes, está nos dando informações importantes sobre o processo de reorganização dos neurônios da medula espinhal. Podemos, agora, tentar manipular esses neurônios para regenerar a medula espinhal”, concluiu Jocelyne.
Com informações da Nature