Quem vê a nadadora paranaense Emanuelle Victória, 15 anos, vibrando pela medalha de ouro conquistada nas Paralimpíadas Escolares, não imagina o que ela passou nos últimos 12 anos, entre idas e vindas de internações em hospitais, lutando pela vida.
A jovem nasceu com mielomeningocele, uma má-formação na coluna vertebral e na medula espinhal, além de hidrocefalia. Foi desenganada por diversos médicos, mas a mãe, Regina Célia, insistiu na gestação. Hoje Emanuelle é literalmente uma vencedora. A jovem, que passou por tantos obstáculos, garante que eles só a fortaleceram para ela se tornar a atleta competente e determinada que é hoje. Um exemplo!
“A sensação é de que comecei a viver agora. Nunca imaginei que isso tudo aqui existia. Eu só conhecia o hospital e a minha casa. Aqui, tenho amigos e pessoas que me compreendem. Posso distrair minha cabeça. A água me ajuda a resolver problemas”, disse a nadadora brasileira.
Dias de luta
Ao todo, Emanuelle encarou 12 anos de longas e constantes internações. A última intervenção, feita para realizar a rotação da tíbia, osso localizado entre os joelhos e os pés, exigiu um ano e meio de internação no Hospital Sarah Kubitschek, em Brasília (DF).
“O meu pé era para trás. Precisei fazer a rotação para ele ficar para frente”, relata Emanuelle.
Para que ela tivesse a saúde restabelecida e pudesse levar uma vida tranquila, a mãe apostou em tudo. E foi em tudo mesmo!
Regina gastou todas as economias da família para lidar com as inúmeras cirurgias necessárias para a sobrevivência da menina. Enquanto cuidava da filha, ela ainda enfrentou um câncer.
“Foram muitas lutas, passamos por muita coisa. Hoje a vejo saudável, viajando sozinha. Eu me sinto realizada, tenho a sensação de missão cumprida”, conta Regina.
Dias de Glória
A natação chegou na vida de Emanuelle como recomendação médica e logo se tornou uma paixão.
Ela conta que o médico determinou que ela adotasse a natação como prática de fisioterapia. A jovem começou a praticar o esporte em 2019 e, imediatamente, o educador físico, José Alípio Gouveia, que a orientava percebeu o potencial dela e indicou a participação em campeonatos locais.
“Três meses depois da primeira aula, ela já se sagrou campeã nos jogos escolares do estado. Em dezembro de 2019, completou 14 anos e veio para a etapa nacional. Das cinco provas que disputou, ganhou quatro”, lista José.
Ele também reforça que a natação ajudou Emanuelle em diversos outros aspectos. “Hoje ela tem autonomia de fala, superou a timidez, amadureceu e ganhou autoestima”, destaca.
Maior disputa
Agora em novembro, Emauelle fez a maior disputa da carreira, até o momento.
Na primeira prova, Emanuelle conquistou o ouro nos 50m livre da Classe S6. Ela saiu da piscina com o melhor tempo da carreira, com 43s22. Uma marca que a posiciona entre as cinco melhores do país na distância, incluindo aí atletas adultas.
No ano passado, a jovem foi campeã brasileira dos 200m, tanto na categoria principal quanto nos Jogos Escolares.
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Passaporte e perspectivas
Emanuelle quer ir além, após esse ouro. No ano passado, ela esteve na primeira competição internacional, na Argentina, mas garante que o sonho mesmo é chegar até o Parapan-Americano de Jovens, que será em 2023, em Bogotá, na Colômbia.
“Nunca imaginei que isso tudo aqui existia. Eu só conhecia o hospital e a minha casa. Aqui, tenho amigos e pessoas que me compreendem. Posso distrair minha cabeça. A água me ajuda a resolver problemas”, descreve a atleta.
“Durante dez anos da minha vida eu perdi bastante tempo. Agora, ver que eu estou aqui, participando de coisas legais, é incrível”, conclui.
Com informações de Ministério da Cidadania.