Quando o filho salva a vida da mãe. Graziele Farias, que estava na fila por um transplante de rins há mais de quatro anos, realizou o sonho depois de viver uma tragédia. O novo rim veio do filho Kauan Farias, morto aos 20 anos, num acidente de motocicleta no interior de São Paulo.
“Ele [Kauan Farias] me deixou um presente”, costuma repetir Graziele Farias a quem pergunta sobre sua história, contando que o rapaz dizia: ‘Mãe, aguenta mais um pouquinho. Logo mais nós vamos poder fazer tudo que você tem vontade de fazer’. O sonho da vida dele era esse”, contou.
Nayara Furquim disse que a irmã soube da doação do rim do filho no dia seguinte à morte, momento em que um funcionário do hospital ligou e falou que chegou um rim novo para ela: “Vem receber o rim do seu filho”.
Graziele Farias passa bem e se recupera da cirurgia no hospital. “O Kauan deu um fôlego de vida para a mãe dele de novo”, disse Nayara Furquim.
Acidente
Kauan Farias pilotava sua motocicleta em Birigui (São Paulo), no último dia 1º, quando sofreu um acidente. Ele teve traumatismo craniano, entrou em coma e, após a internação em uma unidade de saúde de Birigui, foi transferido para um hospital em Araçatuba, onde acabou morrendo.
Com o agravamento do seu estado geral, Graziele Farias não conseguiu ir ao velório nem ao enterro do filho. Mas avisou que, assim que tiver alta, irá no local onde está sepultado, vai “sentar ali, conversar um pouquinho com ele e tirar tudo de dentro do peito, pois não teve essa oportunidade”.
Decisão
Graziele, que fez hemodiálise e perdeu 100% da visão, soube sobre o filho depois da transferência dele para Araçatuba. A morte cerebral do jovem foi confirmada em 3 de janeiro no momento em que ela fazia hemodiálise no hospital ao lado de onde Kauan morreu.
Apenas após o fim do tratamento naquele dia, a mulher foi informada da morte do filho e optou pela doação dos órgãos do rapaz.
Kauan doou os pulmões, fígado, os dois rins (um deles para a própria mãe), coração para retirada de válvulas e córneas, e tecido ósseo, segundo a Santa Casa de Araçatuba.
Nayara Furquim disse que a irmã não teve um minuto de dúvida.
“Ela não pensou dois segundos. Falou que poderia doar tudo, todos os órgãos que fossem possíveis doar. ‘Eu quero que esteja um pedacinho do meu filho em cada lugar’, disse.
Vaquinha
A família de Graziele começou a compartilhar uma vaquinha aberta no ano passado, que não teve a meta batida, para tentar quitar a dívida da casa que Graziele mora.
Ela está com mais de oito parcelas atrasadas. Segundo os parentes, ela tem dificuldades de trabalhar por causa da baixa visão provocada pelo tratamento pesado de hemodiálise.