A Tia Miúda, uma idosa vítima do racismo, achava que não estava à altura de ir à formatura do sobrinho e o homem, do interior da Bahia, provou a todos que ela é merecedora de todas as homenagens possíveis nessa vida.
William Divino Silva, de Feira de Santana, soube que Dona Maria da Cruz, conhecida como tia Miúda, de quase 80 anos, se recusava a ir à festa de formatura dele, em Direito, porque “não tinha roupa”. Mas ele soube que era porque a idosa se sentia inferior. “[Ela] lutou por mim”, contou o formando.
“Eu disse à minha tia que a queria comigo lá. Ela relutou: disse que não tinha roupa, que não se sentia bem, que não era lugar para ela. Alegações de uma vítima do sentimento de não pertencimento gerado pelo racismo”, afirmou Will em depoimento à organização não governamental Luiz Gama. (vídeo abaixo)
A festa e a formatura
No dia da solenidade, as lindas palavras em forma de música e o anúncio do nome dela pela mestra de cerimônias foram emocionantes. Tia Miúda chorou e escondeu o rosto de vergonha da plateia, mas logo foi abraçada pelo sobrinho, todo orgulhoso da conquista e por ela vivenciar esse momento.
Ao anunciar os nomes, na festa de formatura, de tia Miudinha e Tatiane, irmã de Divino, a plateia aplaudiu e a música em estilo rap falando da luta do povo preto foi tocada em alto e bom som.
Desta forma o jovem faz homenagem à tia querida na formatura.
Toda linda
Tia Miúda estava lá na formatura, linda, de vestido azul claro, tiara na cabeça e não parava de chorar.
Talvez ela lembrasse de Will ainda menino e agora, bacharel de Direito.
“Perto da data da colação de grau em Direito, disse à minha tia que a queria comigo lá. Ela relutou”, contou Will.
Visivelmente emocionados, Will, tia Miudinha e Tatiane subiram ao palco, no 12 de abril e o vídeo foi divulgado agora.
“Vivi um dos momentos mais felizes da minha vida. Tia Miudinha e minha irmã Tatiane, outra mulher negra potente, foram minhas madrinhas. Com grande emoção, eu estava cumprindo uma promessa de vida e retribuindo um pouco do que ela me deu”, contou o formando.
Garra e determinação
Will disse que, desde sempre, tia Miudinha esteve ao lado dele, apoiando e incentivando. Jamais parou.
“Desde pequeno, minha tia lutou para que eu estudasse. Maria da Cruz, a tia Miudinha, me fez prometer que me formaria no 2° grau. O tempo passou e concluí o ensino médio”, disse Will em depoimento à organização não governamental Luiz Gama.
Determinado, Will sabia que poderia muito mais. “Sempre acreditei que poderia ir além. O objetivo era retribuir o apoio da grande responsável por cada letra que ponho no mundo”.
O jovem ingressou, inicialmente, em História, na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), depois, resolveu fazer o curso de Direito, na mesma instituição.
“Nesse meio tempo, eu me deparei com um vídeo no perfil do Instituto Luiz Gama de uma senhora que não queria ir a uma festa por ser preta. Nos comentários, contei minha história e recebi muito apoio”, afirmou Will, lembrando da tia preta e pobre.
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Gratidão
Will também se lembrou dos demais que colaboraram na trajetória dele, mas jamais esqueceu de tia Miudinha.
“Sou muito grato a professores e a amigos, mas dedico essa conquista à tia Miudinha, mulher preta de quase 80 anos, pobre do que o dinheiro compra, mas rica do que as moedas não alcançam”, afirmou.
Ao falar de tia Miudinha, ressaltou que: “Mulher preta que pouco estudou, mas que ao longo da vida fez questão de não deixar ninguém para trás. Obrigado, Miúda”.
Veja o vídeo do William Divino e a homenagem à Dona Miúda:
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