Cientistas estão comemorando o sucesso do transplante de um coração de porco para um homem em estado terminal. O paciente norte-americano, de 58 anos, casado e pai de dois filhos, tem uma doença cardíaca grave. Ele foi o segundo do mundo a receber um órgão de suíno e agora segue em observação.
Como em 2022 – quando houve o primeiro transplante do mundo utilizando coração de porco – foi a equipe do Centro Médico da Universidade de Maryland (UMMC), nos Estados Unidos, responsável por esta nova cirurgia.
O transplante de coração utilizou o órgão de um porco geneticamente modificado. O paciente Lawrence Faucette foi considerado inelegível para um transplante tradicional com coração humano por ter uma doença vascular periférica pré-existente e complicações com hemorragia interna.
O transplante coração de porco
A equipe médica retirou o coração do porco e colocou-o em um aparelho de perfusão mecânica, o XVIVO Heart Box, para manter o coração preservado até a cirurgia.
Paralelamente, o paciente foi tratado com uma nova terapia de anticorpos e medicamentos para evitar a rejeição convencional. Essa terapia foi projetada para suprimir o sistema imunológico e impedir que o corpo rejeite o novo órgão estranho.
Antes de autorizar o transplante, o paciente foi informado dos riscos e que era uma cirurgia experimental ainda em fase de análises. Lawrence passou por uma avaliação psiquiátrica e conversou com um especialista em ética médica e assistentes sociais.
“Este programa inovador incorpora o futuro da medicina molecular na cirurgia e fala de um futuro possível onde os órgãos podem estar disponíveis para todos os pacientes”, disse Mark Gadwin, vice-presidente executivo de assuntos médicos da Universidade de Baltimore.
Para Bert W. O’Malley, outro pesquisador que integra a equipe, a cirurgia representa um avanço impressionante para a ciência.
“Este transplante é outra conquista notável para a medicina e a humanidade”, afirmou. “Os Faucettes e milhares de famílias como eles são a razão pela qual estamos avançando para impulsionar o campo do xenotransplante.”
Única opção
Após análise criteriosa, a equipe médica constatou que a única opção para Lawrence seria o transplante, porque ele enfrentava o risco de morte por insuficiência cardíaca.
Veterano da Marinha, Lawrence trabalhava como técnico de laboratório no National Institutes of Health antes de se aposentar.
“Minha única esperança real é optar pelo coração de porco, o xenotransplante”, disse Faucette em uma entrevista antes de sua cirurgia. “Pelo menos agora tenho esperança e tenho uma chance.”
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O xenotransplante
Há quase 30 anos, há cirurgias envolvendo órgãos de porcos em humanos. O xenotransplante, transplante de órgãos de animais, pode potencialmente salvar de vidas. Porém, há riscos, como contaminação e rejeição por parte do paciente. Os especialistas conduzem pesquisas em busca de solução.
O receio maior é de transmitir um patógeno desconhecido do animal para o paciente humano. Os xenotransplantes têm maior probabilidade de desencadear uma resposta imunológica perigosa.
Estas respostas podem desencadear uma rejeição imediata do órgão com um resultado potencialmente mortal para o paciente.
Geneticamente modificado
A United Therapeutics Corporation, por meio da subsidiária de xenotransplante Revivicor, com sede em Blacksburg, VA, forneceu o porco geneticamente modificado ao laboratório de xenotransplante da UMSOM.
Órgãos de porcos geneticamente modificados têm sido o foco de grande parte da pesquisa em xenotransplante por causa das semelhanças fisiológicas entre a espécie e primatas humanos e não humanos.
Evitar rejeição
Três genes – responsáveis por uma rápida rejeição de órgãos de porcos por humanos, mediada por anticorpos – foram “eliminados” no animal doador.
Seis genes humanos responsáveis pela aceitação imunológica do coração de porco foram inseridos no genoma.
Um gene adicional no porco foi eliminado para evitar o crescimento excessivo do tecido cardíaco. Foram feitas 10 edições genéticas únicas feitas no animal doador antes do transplante.
Os estudos envolvendo este tipo de cirurgia foram publicados na revista científica New England Journal of Medicine e, depois em outra chamada The Lancet.
Pelas pesquisas, o coração do porco funcionou bem no paciente durante várias semanas, sem sinais de rejeição aguda.
O primeiro transplantado, que recebeu coração de porco, David Bennett morreu, no ano passado, por insuficiência cardíaca, segundo os especialistas, causada por uma série de fatores e não em decorrência do transplante.
Aprovação emergencial
A Food and Drug Administration (FDA), a agência reguladora dos Estados Unidos, aprovou de forma emergencial a cirurgia no último dia 15.
“Somos extremamente gratos ao Sr. Faucette por sua coragem e disposição em ajudar a aprimorar nosso conhecimento neste campo”, disse Bartley P. Griffith, médico responsável pela cirurgia.
O cirurgião-chefe está otimista sobre a nova vida que Lawrence terá.
“Temos esperança de que ele volte para casa em breve para aproveitar mais tempo com sua esposa e o resto de sua amorosa família.”
Muhammad M. Mohiuddin, considerado um dos maiores especialistas mundiais em xenotransplante, afirmou que as pesquisas prosseguem para que mais avanços sejam possíveis.
Aproximadamente 110 mil americanos aguardam um transplante de coração e mais de 6 mil pacientes morrem a cada ano antes de conseguir.
“Como cirurgiã cardiotorácica que faz transplantes de pulmão, sou muito grata à nossa equipe de cirurgiões que está trabalhando para ajudar a resolver a crise de escassez de órgãos”, disse Cristine Lau, que compõe da equipe da universidade.
Assista ao vídeo da segunda cirurgia de transplante de coração de porco em humanos
Com informações da Universidade de Maryland