Meio século separou esses irmãos, até o dia em que eles se reencontram com a ajuda da família e agora vão poder viver juntos tudo o que não tiveram oportunidade. Nem eles acreditaram que isso seria possível!
Dimas da Silva Guerra trabalhava no coração da floresta amazônica nos anos 70. Procurava um serviço para mandar dinheiro para família no Ceará. Fugindo da seca que atingiu o estado em 1970, Dimas foi um dos 11% da população que migraram em busca de algo melhor.
Agora, com a ajuda da sobrinha Brena Guerra, depois de 50 anos afastado, Dimas conseguiu encontrar José Maria, Teresa e Celina, alguns de seus irmãos. O encontro aconteceu de maneira surpresa por uma chamada de vídeo. “Eu cheguei pro meu pai e falei: olha, tem uma promessa que eu sempre te disse que ia cumprir, e chegou a hora. Eu consegui localizar seu irmão”, disse Brena. Agora eles planejam um encontro presencial!
Passado difícil
A separação aconteceu ainda na juventude.
Os irmãos eram filhos de um casal que teve 18 crianças ao total. Morando no município de Aracati, a 150 km da capital cearense, a infância não foi fácil.
A família vivia de favor e os pequenos, desde cedo, trabalhavam no roçado do terreno.
O maior desafio veio na virada entre as décadas de 1960 e 1970.
“As lagoas secaram, os peixes acabaram, e a gente começou a passar muita fome, ficamos trabalhando em troca de um pouco de farinha”, disse José Maria.
A situação foi ficando cada vez mais difícil e os pais tiveram que “dar os filhos, espalhar pra um canto e pra outro”, explicou José.
Dimas, aos 16 anos, rumou para o norte. Do Pará, o rapaz trabalhava e sempre que podia, mandava um dinheiro para os que ficaram no nordeste.
O contato definitivo foi perdido tempo depois. Os pais da família saíram do interior e foram para Fortaleza.
As buscas
Junto com a família, José também se mudou para Fortaleza e assim que chegou lá recebeu uma missão dos pais: encontrar Dimas.
“A gente não tinha esperança”, confessou José. O homem recebeu a responsabilidade depois da morte da mãe.
E como missão dada é missão cumprida, José nunca desistiu! Em 2000 comprou uma passagem de ida e volta para Belém.
“Eu tinha medo, mas fui sozinho pelo meio do mundo, fui bater no Pará. E aí eu fui em duas emissoras de rádio, mas eu não tinha foto dele nem nada, só o nome. Diziam que era difícil, me pediram pra ficar mais uns dias. Mas eu só tinha ido com o dinheiro das passagens, então fiquei uns dias no terminal e voltei pra casa”, lamentou.
De pai para filhos
A missão se estendeu e ganhou novos ajudantes. Brena, filha de José, foi quem ajudou o pai a realizar o desejo dos avós.
“Ele me dizia que queria muito encontrar o Dimas e que quando eu crescesse, se eu me interessasse, podia ajudar”, contou.
Hoje ela tem 29, mas Brena começou as buscas com 18. No início, a menina usava um computador de uma lan house para tentar achar os tios.
Depois, ela comprou um celular com acesso à internet e intensificou ainda mais a missão.
“Eu dizia a ele que um dia encontraria meu tio. Eu dava minha palavra, mas no fundo eu tinha medo de que isso nunca acontecesse.
Em 2023 ela resolveu pedir ajuda para um primo que trabalhava em Aracati. Com a data de nascimento de Dimas, finalmente uma pista surgiu!
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50 anos e um final feliz
Juntos, Brena e o primo começaram a entrar em vários grupos de pessoas desaparecidas no Facebook.
“Em um deles encontramos a informação de um Dimas que procurava a família há mais de 50 anos. Então, comecei a mandar mensagem para todo mundo com o sobrenome ‘Guerra’ no perfil dele.
Tempo depois, a menina conseguiu falar com a pessoa responsável pela postagem. Agora, com a cópia do CPF do tio, tudo fica mais fácil!
“Com o nome completo, a data de nascimento e o número do CPF, descobri no Cartório Eleitoral que os pais dele eram meus avós. E aí comecei gritar de felicidade”, disse a menina.
Não acreditando que realmente estava falando com seu tio, Brena fez perguntas específicas para o homem, que lembrava tudo sobre o passado!
Reunião inicial
Agora era a hora de marcar uma reunião online entre os irmãos.
Tremendo e chorando muito, José Maria pela primeira vez, via seu irmão por um tela de celular.
Depois disso, a conversa entre eles virou algo de rotina!
“Todo dia eles conversam. De manhã, o Dimas fala com a Teresa. De tarde, com a Celina. E de noite, quando meu pai chega do trabalho, eles conversam. É algo muito mágico. São 50 anos de conversas atrasadas”, contou Brena.
A família quer agora realizar um encontro presencial. E se depender deles, isso vai acontecer o mais breve possível!
Com informações de O Povo.