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Vacina contra cocaína e crack da UFMG vence Prêmio Euro; € 500 mil
20 de outubro de 2023
- Renata Dias
A vacina brasileira contra cocaína e crack, vencedora do prêmio Euro, é coordenada por Frederico Duarte Garcia, da UFMG, e está em estudos desde 2015 - Foto: Eurofarma / Divulgação
A vacina brasileira contra cocaína e crack, vencedora do prêmio Euro, é coordenada por Frederico Duarte Garcia, da UFMG, e está em estudos desde 2015 - Foto: Eurofarma / Divulgação

A vacina brasileira contra cocaína e crack da Universidade Federal de Minas Gerais, a UFMG, venceu o Prêmio Euro Inovação de Saúde. A Calixcoca ganhou na categoria “Destaque”. Ela atua de forma preventiva no tratamento de dependentes químicos.

A equipe de cientistas recebeu 500 mil euros, o equivalente a R$ 2,5 milhões. O Prêmio Euro é organizado pela multinacional farmacêutica Eurofarma, que atua em 20 países, e foi divulgado esta semana em São Paulo.

“Essa conquista representa uma grande vitória para a comunidade de pesquisadores da UFMG e para a ciência brasileira. A Calixcoca traz esperança por se apresentar como uma importante alternativa de tratamento contra as drogas”, afirmou Sandra Goulart Almeida, reitora da UFMG.

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Esforço coletivo

A vacina brasileira foi a mais votada por médicos de 17 países e superou outras 11 finalistas.

Para o professor Frederico Garcia, que também é coordenador da pesquisa, a conquista do Prêmio Euro é resultado de um desafio coletivo de levar adiante a pesquisa da vacina contra crack e cocaína.

Ele ainda refletiu sobre a dificuldade de se fazer ciência atualmente.

“Desenvolver ciência na América Latina não é fácil. A UFMG é, hoje, uma universidade que está fazendo a diferença”, completou.

Quando será colocada em uso

Apesar de não ter uma data certa para o lançamento da vacina, Sandra falou quais serão os próximos passos para que o imunizante seja colocado para uso.

“Há, ainda, um longo caminho a percorrer, e esse prêmio nos estimula a continuar trabalhando para que a vacina cumpra todas as suas etapas de desenvolvimento”, destacou a reitora.

Independentemente disso, para os pesquisadores, a conquista do Prêmio Euro é sobretudo o reconhecimento do empenho de um grupo imenso pela causa social.

Como é a vacina

O medicamento induz o sistema imune a produzir anticorpos que se ligam à cocaína na corrente sanguínea.

A ligação transforma a droga numa molécula grande, que não passa pela barreira hematoencefálica.

O estudo foi submetido a etapas pré-clínicas para verificação de segurança e eficácia para tratamento da dependência de crack e cocaína.

Também foi observada a prevenção de consequências obstétricas e fetais da exposição às drogas durante a gravidez em animais.

Frederico Garcia destacou os resultados obtidos até o momento nos testes da Calixcoca. Mas alertou sobre os cuidados que se deve ter.

“Ela não seria indicada indiscriminadamente para todas as pessoas com transtorno por uso de cocaína. É preciso fazer uma avaliação científica para identificar com precisão como ela funcionaria e para quem, de fato, ela seria eficaz”, explicou.

Nos testes foi possível observar ainda que a vacina quando aplicada em ratas grávidas produziu  níveis significativos de anticorpos. Houve ação da droga sobre a placenta e o feto, com menos complicações obstétricas, maior número de filhotes e maior peso do que as não vacinadas.

Enfrentamento à doença

A vacina deve ser utilizada como prevenção primária de transtornos mentais, como no caso da proteção aos fetos gerados por dependentes de cocaína grávidas que forem vacinadas, algo inédito na psiquiatria.

O que se pretende é enfrentar a dependência em cocaína e seus derivados, como o caso do crack. As substâncias são consumidas por mais de 18 milhões de pessoas no mundo, segundo as Nações Unidas.

Pelos menos 25% destas pessoas se tornam dependentes, sendo o Brasil o segundo maior consumidor, atrás apenas dos Estados Unidos.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Classificação Internacional de Doenças (CID) considera a dependência química uma doença que deve ser tratada no âmbito da saúde mental.

Em geral, o dependente químico, seja de cocaína, crack e outros, quando tratado, é submetido a uma desintoxicação, recondicionamento e terapias, além do uso de medicamentos.

Nos casos mais graves, há dependentes químicos que desenvolvem transtornos mentais e de comportamento devido o uso de drogas.

O tratamento do dependente

O professor ressaltou a urgência em buscar alternativas para o tratamento para a dependência química.

“Sabemos como é difícil ter uma pessoa dependente em casa, como é sofrido para um acometido pela dependência ter que lidar com a ambivalência de usar ou não droga”, afirmou o pesquisador na cerimônia de premiação.

Em seguida, Frederico acrescentou que: “Ainda mais difícil para uma gestante dependente proteger seu feto e lidar com a dor da abstinência. Temos essa missão”.

Além de Frederico Garcia, os estudos reúnem os professores Maila de Castro, da Faculdade de Medicina; Gisele Goulart, da Faculdade de Farmácia e Ângelo de Fátima, do Instituto de Ciências Exatas (Icex).

Os pesquisadores do Núcleo de Pesquisa em Vulnerabilidade e Saúde (NAVeS), Paulo Sérgio de Almeida, Raissa Pereira, Sordaini Caligiorne, Brian Sabato, Bruna Assis, Larissa do Espírito Santo e Karine Reis também fazem parte da equipe.

A vacina venceu outras pesquisas, como a SpiN-Tec, também da UFMG, vacina contra a covid-19 que foi agraciada com 50 mil euros por ser uma das vencedoras na categoria Inovação em terapias.

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Financiamento público

A Calixcoca é financiada pelos governos federal e de Minas Gerais e com recursos de emendas parlamentares, e sua continuidade depende de mais recursos.

Em agosto, a reitora Sandra Goulart Almeida e o professor Frederico Garcia apresentaram o projeto ao Ministério da Educação e pediram poio governamental para dar prosseguimento aos testes.

Em julho, o secretário de Estado de Saúde, Fábio Baccheretti, anunciou, durante visita da ministra Nísia Trindade à UFMG, o repasse de R$ 10 milhões.

UFMG vence Prêmio Euro com vacina contra crack e cocaína

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