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‘Sobrevivente da criminalidade’, brasileira de 18 passa em Medicina sem internet
3 de dezembro de 2023
- Rinaldo de Oliveira
Moradora do Acre, Thainá Araújo Barros não teve contato com o pai e foi criada pelos avós na periferia de Rio Branco. A brasileira passou em Medicina sem ter dinheiro nem internet para estudar em casa. - Foto: arquivo pessoal
Moradora do Acre, Thainá Araújo Barros não teve contato com o pai e foi criada pelos avós na periferia de Rio Branco. A brasileira passou em Medicina sem ter dinheiro nem internet para estudar em casa. - Foto: arquivo pessoal

Uma jovem brasileira de 18 anos está realizando o sonho de cursar Medicina na Universidade Federal do Acre (Ufac), apesar de todas as dificuldades que enfrentou, como falta de dinheiro e internet para estudar em casa.

Moradora do Acre, Thainá Araújo Barros não teve contato com o pai e foi criada pelos avós na periferia de Rio Branco, no bairro Taquari, região conhecida pela criminalidade

“O meu avô foi zelador do Mercado Seis de Agosto e, atualmente, é aposentado. E a minha avó nunca teve atividade trabalhistas por questões de saúde […] Toda a minha infância foi voltada em hospitais. Eu adoeci muito quando criança e acho que a vontade de me tornar médica vem daí”, contou Thainá Araújo Barros.

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Determinação e dedicação

Thainá sempre estudou em escola pública e lembra que durante a pandemia não tinha internet nem computador em casa e teve que superar as adversidades para aprender os conteúdos.

“Na pandemia, eu não tinha acesso a wifi e também não tinha computador, e para piorar o meu celular não pegava muito bem. Então, fazer meu ensino médio no online, que foram dois anos, foi bastante desafiador. Tive muita dificuldade, inclusive, dificuldades financeiras”, lembrou a estudante.

Oportunidade que ajudou muito

“Eu sabia que para mudar de realidade e conseguir sair de uma realidade que, infelizmente, é muito triste, eu teria que fazer algo diferente, teria que me esforçar dez vezes mais que o observado em outras pessoas”, disse.

E a dedicação da menina nos estudos chamou a atenção de uma professora que indicou a jovem para estudar no Colégio Acreano.

“Uma professora me deu a oportunidade de estudar no Colégio Acreano e de lá fui apresentada ao Instituto Federal do Acre [Ifac], onde cursei todo o ensino médio”.

Cursinho online para tentar Medicina

Sem dinheiro para pagar um pré-Enem presencial, Thainá apostou em um cursinho online que dividia com outra pessoa.

“No meu 3° ano do ensino médio, eu não tinha condições de fazer um cursinho presencial, era bolsista do Ifac e me mantinha com R$ 400. Daí comecei a dividir um cursinho online, mas eu sempre estava tão lisa de dinheiro, que a pessoa acabava pagando e nem me cobrava. E eu fui estudando apenas com conteúdos online e os professores do Ifac, que foram fundamentais”.

Dia todo estudando

Para se preparar para o Enem [Exame Nacional do Ensino Médio], a estudante saia de casa às 5h40 e chegava às 7h da noite.

‘Eu pegava os horários contraturno e ficava estudando, pois eu sabia que era uma prova difícil e o meu ensino teve muitas lacunas. Então, eu sabia que tinha que me esforçar um pouco mais”, conta.

Coração transbordando de alegria

Thainá chegou a passar no curso de Direito, também na Universidade Federal do Acre, cursou o primeiro período e em outubro deste ano realizou o sonho de criança de e começou a fazer Medicina.

Na terceira chamada do Sisu 2 [Sistema de Seleção Unificada], ela foi aprovada para ingressar no curso, com o coração transbordando de alegria.

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Orgulho da família

O avô dela, Raimundo Carrilho, de 77 anos foi um dos grandes incentivadores da neta.

Ele, que começou a trabalhar aos 8 anos de idade na roça e estudou apenas quatro anos na escola, sempre teve consciência de que a educação mudaria a vida da filha/neta.

“Do dinheiro que ganho, deixo de comprar coisa pra mim pra comprar pra ela, pro estudo dela, não sonego, se eu tiver dinheiro eu dou, o que posso fazer por ela eu faço. Tenho fé que ela vai conseguir se formar”, contou o idoso aposentado.

Ele se emocionou quando recebeu a notícia de que Thainá tinha passado em Medicina

“Quando ela chegou dizendo que ia fazer medicina, fiquei muito alegre. Seja o que Deus quiser, quero que ela se forme. Sempre fiz as vontades dela com estudos. Uma vez queria um livro, fiz esforço para comprar, na época era R$ 65. Sempre quis incentivar e assim fui levando com a ajuda de Deus”, conta.

A filha reconhece o esforço

“Minha família foi meu porto seguro, por eles não desisti, tirava forças para continuar e plantar por meio dos estudos uma esperança de um futuro melhor para aqueles que eu amo, em especial os meus avós, minha mãe e meus irmãos. Apesar dos dias de luta, chegaram os dias de glória, consegui ser aprovada no curso de direito e medicina na Universidade Federal do Acre, e estou pronta para iniciar mais um passo na minha trajetória, construindo uma vida pela qual irei me orgulhar, sei que seis longos anos estão por vir e quero me tornar médica não apenas das doenças, mas sim da alma, proporcionando o bem-estar do meu próximo com amor pela vida”, disse a jovem nas redes sociais.

“Espero me formar daqui 6 anos, sei que é difícil, mas que é possível, porque passei pelo mais difícil que foi a aprovação.”

Post de Thainá nas redes sociais. - Foto: reprodução / Instagram
Post de Thainá nas redes sociais. – Foto: reprodução / Instagram
Thainá Araújo Barros foi foi criada pelos avós na periferia de Rio Branco. A brasileira não tinha dinheiro nem internet para estudar e passou em Medicina - Foto: arquivo pessoal
Thainá Araújo Barros foi foi criada pelos avós na periferia de Rio Branco. A brasileira não tinha dinheiro nem internet para estudar e passou em Medicina – Foto: arquivo pessoal

Com informações da GazetaDoAcre

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